Tenho repetido algumas vezes que, para mim, há muitas maneiras de apreciar um livro, de abordar uma opinião, de (no GR, por exemplo) atribuir as malditas estrelinhas. Por exemplo, podemos reconhecer um belíssimo exercício de escrita, como me aconteceu em As Cidades Invisíveis, de Italo Calvino. Ou abraçar um desafio de simbologias e interpretações, como nos dois volumes da Alice, de Lewis Carrol. Podemos reconhecer a excelência do conteúdo, mesmo que nos deixe frios. Pode ser a história que nos apaixona, ou as personagens, ou pode o livro reunir tantas destas coisas que nem sabemos por onde começar. Tantas formas! Uma delas é, como me sucede por vezes, deixarmo-nos reger apenas pela emoção, seja pelo prazer ou pela dor: este livro, por exemplo, valeu a pena pelo puro gozo que me deu lê-lo.
Segundo a sinopse "Nina Redmond é literalmente uma casamenteira. Encontrar o livro perfeito para cada leitor é a sua paixão... e também o seu trabalho. Ou pelo menos era, até a biblioteca pública onde trabalhava fechar as portas.Determinada a encontrar um novo rumo, Nina muda-se para uma pacata vila na Escócia, onde compra uma carrinha e a transforma numa livraria itinerante, viajando pelas Terras Altas e transformando as vidas daqueles com quem se cruza com o poder da literatura.É então que descobre um mundo de aventura, magia e romance num lugar que aos poucos se vai tornando no seu lar… um lugar onde ela poderá escrever o seu final feliz para sempre."
E foi isto mesmo e nada mais, uma história leve, um romance de auto-afirmação (que inveja me deu a reviravolta que a a personagem principal deu à sua vida, embora, convenhamos, ter 29 e 49 anos não seja bem o mesmo!), de amor pelos livros, primeiro, de amor à vida, em segundo lugar, e de amor-amor, depois. Também é uma história "escocesa", e quanto mais leio e vejo sobre a Escócia, maior a minha vontade de conhecer. Está repleto de referências literárias de géneros variados, algumas das quais reconheci da minha infância e juventude, com os títulos originais e notas de rodapé a indicar os dados da publicação portuguesa, quando existe (também refere a inexistência, quando é o caso).
Não será um clássico, e não tem de sê-lo, não há nada nele de eterno, a não ser o amor pelos livros, e é provável que um dia não me lembre dele, como decerto vou esquecer... aliás, já esqueci o nome das personagens, embora não as personagens em si. Li-o num instante, deliciada, com um gozo enorme, talvez por ter vindo num momento de exaustão, em que precisava mesmo de uma leitura assim.