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sexta-feira, 19 de março de 2021

Para além de escritora, ou antes disso, sou professora. E esta semana está a ser difícil para muitos professores.

Há muitos anos que não tremo de medo quando submeto a candidatura obrigatória para o concurso interno, mas assumo que me dá sempre um friozinho no estômago, um amargo de boca. E se, desta vez, corre mal? E eis que me assaltam as dúvidas, e com elas, as amarguras.

Porque é que uma profissional de carreira com (quase quase) 50 anos, 25 de ensino (uns 20 em QZP), que, goste ou não, dá o seu melhor e que está há mais de 10 anos na mesma escola (sempre em QZP e sempre a concorrer), concorre na segunda prioridade? E aqui talvez haja quem me diga: porque eu concorri para o país todo e tenho direito a aproximar-me à tua frente! E eu respondo: e isso faz de mim menos professora do que tu? Não estou também na carreira? Não sou mais velha, com mais anos nisto? Não decidiste que podias afastar-te? E não faço, pelos vistos, falta na escola onde estou? Porque não se vinculam os professores que estão há mais de 10 anos na mesma escola a essa escola? Não é tempo suficiente? Faria sentido também em termos da estabilidade do corpo decente. É difícil saber que há lugar para mim na "minha" escola... mas não há.
A verdade é que cada um faz as suas escolhas e eu fiz esta, a de não me desenraizar e suportar de X em X tempo estas incertezas, mas estou cansada. Suponho que quem se desenraizou (por sua escolha) vê à sua maneira.

Portanto, ando e andarei nesta ciranda, sendo bastante certo que:
- não fico em quadro de escola, porque não há vagas num raio razoável em redor do meu lugar de habitação, na verdade não há vagas quase nenhumas em lado nenhum (dá mais jeito ter QZPs e contratados a preencher buracos aqui e ali);
- vou voltar a concorrer enquanto QZP e a ficar na mesma escola, porque é quase certo que vai ter lugares para nós e o primeiro talvez seja meu outra vez, "vantagens" da idade/tempo de serviço;
- daqui a 3 anos (não tinham determinado 4?) volto a fazer o mesmo circuito, com os mesmos resultados, e assim andarei até me reformar, me decidir a concorrer ao país todo e ilhas e, com mais de 50 anos, voltar a andar com a casa às costas, ou acabarem com os QZPs e nos colocarem... pois, não sei. Nos obrigarem a concorrer ao país todo e sermos todos forçados a voltar a andar com a casa às costas.

Talvez seja no próximo concurso, ou no outro a seguir, que decido que o mundo é a minha casa. Vou para a Madeira, ou para os Açores, se houver lugar para mim lá. Para o Alentejo profundo, ou para onde calhar ou para lado nenhum, porque não há lugar. Terei, no mínimo, 53 anos. Ou 56. Estarei a mais de uma década da reforma. Talvez continue a dar o melhor de mim, mas a não me sentir valorizada.

E é nestes dias que me pergunto: o que fiz eu com a minha vida?

E pronto, desabafo feito. Volto ao trabalho, que me esperam (muitas) composições para corrigir.

1 comentário:

Patrícia disse...

É um pavor chegar à tua idade/anos de serviço e não ter estabilidade. Não é assim que trata um professor. Não é assim que se trata alguém com as responsabilidades que um professor tem.