Terminei ontem a leitura de A Oeste Nada de Novo. Há algum tempo que estava para terminá-lo. Tinha lido várias passagens quando fiz a minha pesquisa para O Ano da Dançarina (passagens terríveis) e ganhei agora coragem para lê-lo de uma ponta à outra.
Esta é a opinião que deixei no GR. Aqui fica também, porque TEM DE SER. Leiam-no, se faz favor. Leiam-no.
"Hesitei bastante entre escrever uma opinião a quente, com os sentimentos à flor da pele, ou deixar as ideias organizarem-se, para redigir um texto mais organizado e fundamentado. O livro merece ambas as opções, mas acabou por vencer a primeira.
Na capa, uma curta frase defende que há obras que deviam ser lidas por todas as gerações - sugerindo, presumo, que esta é uma delas. Talvez seja verdade. O certo é que, em mim, provocou um efeito devastador. Escrevo com uma sensação dorida de vazio, e alguma vergonha de senti-lo... afinal, que vivi eu que se comparasse? Não me recordo do exodo que me trouxe de África, era pequena, e de qualquer forma a violência foi outra, e vivo esta pandemia no conforto da minha casa, assistida pelo acesso ao Mundo através dos ecrãs, com alimento, livros, e gente.
Impressionou-me a absoluta ausência de silêncio, Paul refere que o som da batalha os acompanha em todos os momentos, mais próximo ou mais distante, e parece-me que, do sossego do meu sofá, posso ouvi-lo também. Impressionaram-me as condições de vida, a má alimentação, higiene e vestuário, os piolhos, a rataria, a lama, o sangue. Impressionou-me a morte dos cavalos. Impressionou-me a capacidade de improvisar e sobreviver. Impressionou-me ter-me esquecido que estes são soldados alemães... não, são meninos lançados para a morte, e nisso a nacionalidade não importa. Nem, de certa forma, a eles próprios. Estes rapazes lutam com a consciência da (quase) inevitabilidade da morte, de uma forma muito distante da percepção abstrata e distante no tempo que temos dela e, no momento em que está sobre eles e em seu redor, não lutam por uma nação, mas por si próprios e pelos que estão ali, ao seu lado, contra os que atacam do lado de lá. Quem são? Pouco importa.
Há violência de ir às lágrimas, e o autor não nos poupa. Nem deveria. É um livro de guerra e a guerra é mais do que um palco. Assistimos à destruição física de uma geração - deparamo-nos com a descrição vivíssima e crudelíssima de ferimentos de todos os tipos e, como diz Paul, o narrador, em todas as partes do corpo, e de mortes atrozes. Pareceu-me algumas vezes insuportável, não apenas a morte, mas a vida: a forma como estes rapazinhos, mais ou menos da idade dos meus filhos, sobrevivem, transitando entre uma animalidade indiferente, em que, no momento da batalha, o medo é uma coisa física que lhes assegura o instintio de sobrevivência, e momentos de leviandade, sempre que estão um pouco mais afastados da Frente. É assim que Paul o descreve. É assim que o vemos. Sobretudo, pareceu-me insuportável compreender como esta geração de rapazes atirados dos bancos da escola para a guerra, que toma forma em Paul, se vai esvaziando de ligações com os seus lugares, memórias e gentes, de perpectivas e desejos para o futuro e, quase no fim do conflito, se percebe presa entre outras duas: a que tem algo para que voltar, uma família, um trabalho, e a que, segundo diz "é agora como nós costumavamos ser, e essa geração ser-nos-à completamente estranha e atirar-nos-à para o lado". Não será sempre assim nas guerras, feitas às custas das vidas dos jovens?
A Oeste Nada de Novo é uma narrativa ficcional. Mas o que nela se encerra não é, pois não?"
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