De vez em quando sou acometida de uma certa inquietude, e de vez em quando sou forçada a ela.
A minha vida tem um lado familiar muito estável e um lado profissional que, a espaços mais ou menos regulares, ameaça revolução. Sou professora há mais de 20 anos, quase 22, mas não pertenço ao Quadro de um escola: sou Quadro de Zona, o que sognifica que, a cada concurso, sou colocada perante a eventualidade de mudar de escola, sem o desejar. Claro que, com todos estes anos de profissão, estou já bem colocada para fazer as minhas escolhas, mas entre a probabilidade e a certeza vai uma distância que é monstruosa, para quem espera. Tenho sonhos esquisitos na véspera da "rande revelação", bate-me o coração que é um disparate enquanto consulto a lista maldita, dividida entre a esperança de continuar na minha querida escola e o medo da interferância de algum espírito maligno ter forçado toda a gente que está à minha frente a fazer as mesmas escolhas do que eu, e me ter atirado para alguma escola que não escolhi, mas já estou acostumada a isto e aprendi, há muitos anos, a não me afligir por antecipação.
Há, porém, outros desafios, que estão relacionados com a minha segunda ocupação, a escrita - não posso chamar-lhe profissão, quando não vivo nem viverei dela - que é muitas vezes a primeira no coração, perdoem-me todos os alunos de quem gosto tanto. É uma missão pejada de dificuldades e impedimentos, que são causados muitas vezes pelo meu ganha-pão, de dúvidas terríveis quanto à pertinência do que faço, de cansaços e desapontamentos, quando se constata que o nosso trabalho teve uma recepção boa, mas limitada (e sim, estou a falar deste último, de que eu e os leitores parecem gostar, mas teve muito pouca saída), mas é, ao mesmo tempo, uma compulsão, que se alimenta de si própria e das pequenas recempensas, de uma opinião agradável ou de um pequeno reconhecimento.
Esta ocupação coloca desafios sérios e muito estimulantes à minha personalidade um tanto instrospectiva e às minhas naturais inseguranças: é preciso, de quando em quando, sair da minha casca para comunicar com os leitores, que, decidi, não hão-de adivinhar a minha timidez. É um exercício cansativo, que me surpreende sempre com uma certa vontade de fugir a meio da coisa. Depois passa e reconheço, no fim, o bem que me faz. É preciso atirar-me de cabeça, ocasionalmente, a tipologias de texto que nunca antes contemplara redigir, como o conto ou, recentemente, a crónica, nada fácil para quem é escritora de romance, de dissertação, de artigo científico (embora há muito que não o faça, com grande pena minha) e do ocasional poema desafinado. Mas faz-me bem. Faz-me bem.
E depois, há aquele empurrão que vem precisamente quando nos sentimos estagnados. Afigura-se uma mudança no horizonte, que é também uma permanência: como mudar de casa, para acompanhar a família. Veremos o que muda, o que se mantém, para além da gente maravilhosa. Vamos ver também se posso acompanhá-la com uma pequena variação noutros aspectos, mas disso vos darei testemunho em breve. Para já, talvez esta seja a mudança de que necessito num momento de particular indecisão quanto à escrita... Vamos ver se este empurrão me põe por fim na trilha certa!
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