Uma semana depois de ter estado em Ovar, voltei a fazer a viagem para Norte, para um novo encontro com leitores, desta vez com a excelente Comunidade de Leitores da Biblioteca Municipal da Maia.
Foi, como esperava, um encontro muito diferente do anterior. Não na hospitalidade, que parece apanágio do todos os que me têm recebido, porque fui, mais uma vez, acolhida com a maior simpatia, num almoço de confraternização em que todos nos esforçamos por não falar do livro. A diferença foi no teor da conversa e no à vontade com que pude falar do livro, sem receio de revelar mais do que devia, uma vez que o livro já tinha sido lido - e discutido - pela generalidade dos presentes. Do resultado do primeiros desses dois encontros para discussão, aliás, dá conta o Joaquim Jorge Silva, no jornal MaiaHoje:
"A Comunidade de Leitores da Biblioteca Municipal da Maia tem em mãos o mais recente romance de Carla M. Soares, “O ano da dançarina” (Marcador, 2017), uma obra que (re)visita Grande Guerra, não tanto como eixo central narrativo mas como ponto de partida para uma história que coloca em paralelo duas tragédias que no seu conjunto, em Portugal, no ano 1918, dizimaram milhares de homens e mulheres: a Grande Guerra e Gripe Espanhola. (...) Em suma, estamos na presença de um livro arrojado, ambicioso, capaz de surpreender o leitor de o agarrar, dando-lhe, na sua viagem leitora, motivos para ficar a pensar na vida. A forma como cada um com ele se relacionará será, obviamente distinta, como distinta serão as suas opiniões." (opinião completa aqui)
Foi-me prometida discussão acesa, porque no segundo encontro ninguém se entendia quando ao conteúdo do livro, ao que era ou devia ser, ou quanto às minhas intenções e às virtudes e falhas da narrativa. E houve mesmo discussão acesa e muito divertida, porque todas as questões me foram colocadas, desde as expectáveis, como, por exemplo, algumas relativas ao papel da mãe, ao peso e natureza de cada personagem e ao seu percurso na narrativa, à guerra, à gripe e ao título, às mais inesperadas, sobre, por exemplo, a possibilidade de algumas relações amorosas que jamais me ocorreram, à pertinência de mostrar um casamento ou aos motivos para dar certo fim a certas personagens, que são prerrogativas do autor, como dono absoluto do que escreve. Chegou-se à conclusão lógica - e muito bem enunciada pela Isabel Rio Novo - de que o autor só é responsável pelo que escreve, não pelas interpretações dos leitores. Estes fazem, na sua leitura e a partir das suas experiências pessoais e natureza, a segunda parte do trabalho de criação, e, isto disse-o eu, é bom sinal que para o mesmo livro as interpretações sejam múltiplas e díspares, significa que a profundidade do que foi escrito as permite. Foram mencionadas algumas partes favoritas e menos favoritas do livro, o que foi interessantíssimo e muito recompensador.
Tratou-se, de facto, de uma conversa animadíssima e, juro ao Jorge e à Comunidade, não saí dela nada maltratada. Pelo contrário, vim com a impressão de que o livro tinha agradado. Mais ainda, é delicioso que as interações sejam diversas de encontro para encontro e que, num, possa falar da escrita em termos mais gerais, e menos do livro, para não cair em certas revelações e, noutro, possa esmiuçar o livro sem medo, e fale um pouco menos de escrita em geral - falou-se um pouco também, claro, de percursos, pesquisa, método de escrita e perspectivas futuras.
Tive direito a visitas especiais, as do Paulo M.Morais, que generosamente fará a apresentação do livro no Perosinho, da Isabel Rio Novo, que tinha tanta vontade de conhecer, e uma visita especialíssima da minha querida Rosa Maria Nunes, colega de mestrado que há tantos anos não via. No fim, um bolo lindíssimo (e delicioso) a marcar o Porto de Honra e um momento para fotografias de grupo, já desfalcadas de vários elementos presentes no encontro, e de conversa informal.
Resta-me agradecer ao Joaquim Jorge Silva e a esta afável e incansável Comunidade de Leitores, que espero ter a oportunidade de voltar a visitar.
(fotografias graciosamente cedidas pela Comunidade de Leitores da Maia)
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