Limpou do livro todo o pó, página a página muito bem limpo para que a filha pudesse lê-lo sem lhe faltar o ar. Se o ar lhe faltasse, que fosse por saber que
Blimunda via entranhas, quando em jejum, e nove anos passara em busca de
Sete-Sóis. Estivera guardado o livro muito tempo, Blimunda e Baltasar e o
Convento sentados todos à espera, o Rei sem emprenhar a Rainha, Blimunda sem
comer o pão, Baltasar sem desaparecer, o Convento todo por erguer, desde que as
mesmas mãos que agora cuidadosamente o saneavam dos vestígios do tempo primeiro
o tinham aberto e por fim fechado, muitas páginas depois. Amarelas, agora,
manchadas, mas as palavras, essas, tão bem conservadas que, a quem as lia pela
primeira vez, pareciam novas. Boas ou más, mas novas. Está desempoeirado, o
livro, Memorial todo pronto para mudar de olhos.
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