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domingo, 25 de dezembro de 2016

Uma Parte Errada de Mim - Paulo M. Morais

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Se este fosse um livro só sobre cancro, não sei se lhe teria pegado, ou, tendo-o começado, não sei se teria terminado, mesmo sendo do meu querido Paulo, que escreve tão bem. 


Como é um livro sobre muito mais coisas, sobre caminhos e cruzamentos, sobre obstáculos, portas fechadas e portas abertas - e portas que se fecham e se abrem - sem nenhuma auto-comiseração, mas com "realismo esperançoso" e (quase) sem nenhuma lição de vida, comecei-o, acabei-o e gostei muito dele. Consumi-o de forma quase compulsiva, aliás, eu que achei que nunca o leria. Não me exacerbou os medos, nem me pôs a pensar sobre a doença, mas sim sobre os tijolos que me construiram, os meus alicerces. Concluí que, feliz ou infelizmente, me conheço muito bem e à origem das minhas muitas e muitas falhas. Também me pôs a pensar sobre questões que se relacionam com a escrita, em geral e a minha, e até com o meu nome e sobre se um ou outro alguma vez poderão vir a ser levados a sério, e se, mesmo escrevendo bem, alguma vez terei lugar entre os bons. Começo a acreditar que não. Mas isto nada importa a este livro, nem a quem vem saber sobre ele. 

Por conhecer o Paulo, por me ter identificado com tantas coisas e por ter uma perspectiva muito pessoal sobre o conteúdo do livro - que, diz o Paulo, não é uma biografia, mas de certa forma é, ainda que muito fragmentada - desta vez não entro noutros detalhes. Não me pronuncio sobre personagens, enredos, contextos, nada. Digo apenas que, se tiverem de ler um livro em que se fala de cancro, leiam este. É mesmo muito bom.

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