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terça-feira, 1 de dezembro de 2020

A escritora vem a jogo: três anos de ausência

 Hoje é a escritora que vem a jogo, com (pelo menos) três anos de siêncio a compensar.

O meu último livro a chegar aos leitores, Limões na Madrugada, foi publicado Pela Cultura Editora há três anos, mais ou menos por esta altura. Foi um livro de escrita rápida para os meus padrões, acostumada que estou a pesquisas densas e histórias longas. Tem sido assim com todos os livros, menos este último publicado, porque todos até aí tinham um contexto histórico a pedir dias de intensas leituras e muitas verificações de factos e detalhes, ou de fantasia, a exigir construção de mundos coerentes e personagens vivas, ou não têm interesse nenhum. Descobri que a escrita de uns e outros é, afinal, muito parecida, mas isso é coisa para outro dia. 

Três anos é muito tempo para andar escondida. Nesse período de tempo, vi terminar o contrato de dois livros publicados em formatos diferentes, e que são agora meus outra vez: o Alma Rebelde, que necessita de uma séria edição e revisão minha, e o A Chama ao Vento, que nunca esteve em papel e, pelos vistos, dificilmente virá a estar - mas a esperança é a última a morrer, claro! Também atravessei fases diferentes, a de ansiar pela publicação de um novo livro, a de tentar a do Chama, a de desacreditar da escrita e outras coisas, sobretudo no último ano, e a de me aperceber que não sei desistir. A de bater com o pé a mim mesma (e não só) e levar tudo à minha frente. E a de recomeçar. 

Pelo meio disto, a pandemia e um confinamento, que me daria, idealmente, mais tempo para a escrita. Uma ilusão. Nunca trabalhei tanto no que me põe o pão  na mesa - sou professora. 

Então... e em três anos não escrevi nada? Claro que sim. Terminei um livro, cuja execução me levou anos e anos de batalha e incerteza e que, a ser publicado, me trará ao mesmo tempo prazer e terror, por se passar numa terra da qual não me lembro, mas que muita gente recorda ainda, num período em que eu ainda não existia - ou era criança pequena - mas de que outros, muito próximos, decerto se recordarão. Meias palavras? Para bom entendedor chegarão (na imagem, a welwischia mirabilis, planta anciã do deserto do Namibe). Terá o tom certo, este livro? Os lugares estarão bem retratados? Os acontecimentos? O sentimento? Que sei eu? Ah, que presunção a minha, e ao mesmo tempo que ternura coloquei nesta história! Não tem ainda nome definitivo, mas quando tiver (e eu puder) falarei mais sobre ele. 

Também tenho procurado o consolo da eterna revisão de um dos meus livros de fantasia, A Grande Mão. Tem mais de 10 anos, talvez quase 15, este livro... E quantas vezes falei já dele? Quantas o revi, acrescentei, cortei, matei "darlings", fiz nascer outros?  Quantas vezes encontrei consolo nele, quando me vi sem caminho, sem me importar se era maravilhoso, bom, mau, medíocre. Assim é o que mais amamos. Cresceu tanto, que está agora dividido em três partes: revi a primeira, a que chamei "A Companhia do Corvo", revejo agora a segunda, "Passo Solto", com tremendo gozo, hei-de chegar à terceira, "Morte no Lin", e depois se verá o que lhe sucede. Muito gostaria de o ver chegar às mãos de quem gosta do género, embora também me assuste vê-lo encerrado numa versão final, todas as revisões terminadas, as personagens e lugares e acontecimentos na sua derradeira versão. Tão bom, tão terrível!

Que enorme texto escrevi! E, no entanto, muito mais curto do que os 3 anos que, apressadamente, nele reflito. Tanto para dizer, e nada ao mesmo tempo, porque estive longe de mim, e agora regressei.

Uma nota: nestes anos, li histórias das quais vale a pena falar, portanto a próxima a jogar será a leitora. Prometo!

2 comentários:

Patrícia disse...

Gosto tanto do teu regresso, Carla.
Dos teus livros, e do A grande Mão, já sabes que gosto e que lhes desejo toda a sorte do mundo.
Também a mim o confinamento tirou tempo de leitura. Trouxe coisas boas e uma serenidade que há muito não tinha (dou-me muito bem com o teletrabalho) mas não me trouxe mais tempo para ler.
Beijinhos e boas leituras (e escritas)

Carla M. Soares disse...

Obrigada!
Na verdade, também me dei muito bem com o teletrabalho, apesar da intensidade. Coisa de introvertida numa profissão extrovertida, como o ensino. Li bastante, escrever é que não.
Quanto ao Mão, vamos ver o que lhe acontece.
Beijo grande!