
Gosto muito de Afonso Cruz, não só da sua escrita, mas da sua figura humanista, de escritor, músico, artista plástico, homem da cultura, e de uma certa placidez e bonomia nas fotografias em que aparece (não o conheço pessoalmente, talvez engane, não sei, mas é o que vejo). Gostei muito do que li dele até aqui e, no entanto, a minha leitura deste livro não foi sempre pacífica. Pelo contrário.
Li as primeiras páginas com relutância, perguntando-me o que teria mudado em mim, enquanto leitora, que me fazia rebelar contra o estilo metafórico, carregado de imagens, poético, que tanto apreciara no autor noutros livros. Acabei por envolver-me na fantástica história, claro, nas personagens, que são tão importantes para mim, por segui-las com ansiedade, por identificar-me com algumas das suas dores, por revoltar-me com a violência, mesmo nos homens bons, e com a naturalidade com que ela é encarada, por espantar-me com a semelhança nos que nos são tão diferentes e em observar com fascínio alguma da filosofia e cultura - tão diferente a cultura, tão iguais que somos enquanto seres humanos, nos sentimentos, ansiedades e buscas. Fui esquecendo alguma impaciência com o estilo, que acabou por absorver-me, porque é bonito, elaborado e serve muito bem esta narração (Afonso Cruz é de facto um mestre do seu estilo), ainda que, de quando em quando, uma frase ou outra, uma imagem ou outra me fizessem estalar a língua ou sacudir a cabeça. Estou diferente? Sou outra leitora? Se calhar.
Dei por mim a perguntar-me se isso representaria também uma mudança enquanto escritora, não para uma escrita mais despojada, porque já é o que faço, mas para a aceitação de que a metáfora e a exacerbação de uma certa imagética não me serve, ao contrário do que, durante algum tempo, desejei e aspirei fazer. Servir-me-à para a poesia. Talvez.
O livro é maravilhoso, com ou sem um certo excesso verbal - para mim, neste momento, isto é capaz de passar-me - e nem vou referir o fim, que é dolorosamente (im)perfeito. Não quero.
Nota: quase me esquecia de umas palavrinhas finais para as fotos, a remeter a vida para um jogo de xadrez, como em muitos momentos o livro refere. Muito bem.
Nota: quase me esquecia de umas palavrinhas finais para as fotos, a remeter a vida para um jogo de xadrez, como em muitos momentos o livro refere. Muito bem.
1 comentário:
Achei fantástico todo o enredo e a forma como foi construído. Também sou da tua opinião quanto à edição do livro e às passagens com imagens. :)
Enviar um comentário