
Isso e a frase que a fizera pousar o livro, com um sorriso agridoce, e deixá-lo aberto no colo enquanto estudava a forma como as folhas das árvores desenhavam recortes negros e móveis no chão empredrado iluminado pelo sol brilhante de Agosto. Gostava do calor na pele e das formas sempre a mudar, a oscilar como se dançassem com a brisa. Estava surpreendida por haver, no meio de um diálogo inconsequente, uma frase a fazê-la tomar atenção. Releu-a, uma, outra vez, à procura dos motivos para travar ali, nas oito palavras insignificantes que lhe davam um amargo de estômago, "A vida é demasiado curta para esparguete integral". Descobriu que os conhecia a todos de cor e não era capaz de enunciar nenhum em voz alta. Estudou-os de todos os ângulos, pensando nas muitas coisas que podia fazer, no que estava nas suas mãos e no que não estava. Respirou fundo para expulsar pensamentos inúteis, pediu um café e pôs-lhe mais açucar do que o habitual. Depois voltou à descrição de um prato de pasta num almoço de Domingo de uma família italiana numerosa e ruidosa como as dos filmes.
Nota: na leitura d' As Raparigas da Villa, de Nicky Pellegrinno, há uma perda grande (uma rapariga de dezoito anos que perde os pais) e ainda não o terminei, mas a poucas páginas do fim acho que o que me vai ficar deste livro é a impressão de que o sol de verão na Itália é muito parecido com o nosso, o perfume dos pratos italianos, que adoro, aqui em excesso de quantidade e descrição, e as ruas de Londres, cidade em que me imagino a viver. Se o fim do livro me trouxer surpresas, escrevo de novo sobre ele, talvez até, quem sabe, uma opinião. Ehehehe.
Outra nota, acabada a leitura: devo dizer que, como esperava, o fim trai o princípio e não está mal assim. Porque aquilo que diz também é verdade: "vejo que a vida não pode ser arrumada como um quarto. Que é uma coisa confusa - incerta, imperfeita e cheia de concessões." Diz mais coisas, termina a dizer que há mais de uma maneira de ser feliz, o que também é capaz de ser verdade. O que eu sei é que nunca, nem em miúda, fui capaz de ter um desses quartos arrumadinhos de revista.
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