Cruzou-se com ele no parque onde
levava os filhos e notou que estava gordo. Ficou contente. Sentiu-se má e teve vontade de rir. Depois ficou contente por estar um pouco
mais cheia mas não gorda, que fazer, aos quarenta não se tem o corpo dos dezasseis. Perguntou-se
se a reconheceria, achou que sim, desejou que sim, desejou que não. Desejou que
não se lembrasse do último mês, um amargo de vergonha no estômago. Perguntou-se se se falariam, um olá embaraçado e
depois o desnecessário “é o teu miúdo?”, a criança estava-lhe colada às pernas
e era a cara chapada, “é parecido contigo”, “está tudo bem? Ainda bem, até à
próxima”, conversa parva de ocasião e
ela a sentir-se parva. Não, não se falariam, mesmo que se cruzassem
várias vezes, talvez só um sorriso a mostrar que tinham memória. Achou engraçado, vinte e cinco anos depois, ainda se moverem no
mesmo espaço, curioso como as pessoas se agarravam à segurança dos lugares
familiares. Ela também, isso incomodou-a. Vigiou o filho que seguira de
bicicleta e ia muito adiante, mas ali não havia hipótese de ele se perder, de
o roubarem, por isso dedicou-se a endireitar as costas, fazer-se feliz e bonita,
ainda era bonita apesar das marcas óbvias do tempo, e olhar noutra direção. Com ele pelas costas ficou aliviada. Teve pena.
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