Sinopse:
«No seio de uma aldeia beirã, Olímpia Vieira começa a sofrer os sintomas de uma demência que ameaça levar-lhe a memória aos poucos. A única pessoa que ocorre chamar para a assistir é a sua nora viúva, Letícia. Mas Letícia, que se faz acompanhar das duas filhas, tem um passado de sobrevivência que a levou a cometer um crime do qual apenas a justiça a absolveu. Perante a censura dos aldeões, outrora seus vizinhos e amigos, e a confusão mental da sogra, Letícia tenta refazer-se de tudo o que perdeu e dos erros que foi obrigada a cometer por amor às filhas. O passado é evocado quando Sebastião, amigo de infância de Olímpia, surge para a amparar e Gabriel, protagonista da vida paralela que Letícia gostaria de ter vivido, dá um passo à frente e assume o seu papel de padrinho e protector daquelas três figuras solitárias…»
Opinião:
A Célia Loureiro tem em Demência uma belíssima história, muito bem contada. Os temas da violência doméstica e da senilidade (neste caso Alzeimher) não são fáceis, são duros, dolorosos, e estão explorados sem contemplações, mas também sem lamentações. Um tema pesado promete uma leitura pesada que não acontece, pelo contrário, o livro lê-se sem angústia e, a dada altura, não se consegue pousar.
O ambiente da aldeia, fechado, inflexivel, pouco dado ao perdão e muitíssimo machista permeia e explica ações e motivações de forma plausível, enche a história de pequenos ódios e rancores muito humanos. E, no entanto, esta não é uma história de ódio, mas de amor maternal, e é precisamente aí que estão os seus pontos mais fortes. Letícia, Olímpia e a sua mãe antes dela, as outras mulheres da aldeia são leoas na defesa das suas crias, fechando, se for preciso, os olhos aos seus defeitos. Não faz delas mulheres perfeitas, mas resistentes. Não tenciono levantar nem uma pontinha deste véu, para não estragar uma boa leitura a quem decida fazê-la.
Houve um ou outro aspecto na Letícia mais jovem que não consegui 'apanhar' inteiramente, nem na sua interação com Gabriel, sobretudo enquanto jovens. Creio, no entanto, que talvez advenha do aspecto que roubou meia estrelita, em cinco, a a este livro...
Célia Loureiro terá toda a vantagem em, para fazer brilhar em todo o seu esplendor esta sua história, fazer uma boa revisão ao seu livro, principalmente à primeira parte. Não me refiro tanto às gralhas (não descobri assim tantas) mas a alguma construção frásica que originou frases muito longas, por vezes um pouco confusas, e a alguns termos um pouco imprecisos. Será, talvez, um pormenor, mas perturba um pouco a fluidez da leitura no seu início. Esta história e a escrita da autora merecem que todos os pormenores sejam muito bem limados, que tudo esteja perfeito e no seu lugar! Nota-se, aliás, que a escrita ganha fluidez e segurança conforme a história progride, e que estas pequenas questões se vão diluindo e reduzindo, mostrando muito bem as verdadeiras capacidades desta excelente autora.
Em súmula, uma maravilhosa história, que merece ser lida, e uma escrita com profundidade e humanidade que, até pela juventude da autora, promete muito. Parabéns.
1 comentário:
Ora aqui está um livro que não conhecia e cujo a sinopse me deixou deveras curioso.
Enviar um comentário