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segunda-feira, 30 de abril de 2012

Nursery Rhymes - Paula Rego

Tinha emprestado este livro. Voltou a casa, e desfolhei-o com o prazer de quem reata com um velho amigo.

A especialista Marina Warner começa assim a introdução: "Marvels mix with day-to-day and banality meets mystery in the nursery rhyme: an English genre of nonsense verse almost unknown in the rest of Europe..." Podemos imaginar que Paula Rego seja um pouco inglesa também, depois de tantos anos de vida e criatividade nesse país de humor tão Monthy Phyton, puro nonsense. Mas há também um espírito uncanny nas suas obras, conceito curioso, muito habitual nas histórias fantásticas e de horror, que implica a insinuação do estranho no famíliar. Segundo Marina Warner,  no uncanny o familiar ("home") torna-se "odd, prickly with desire, and echoing with someone's laughter."

Nos desenhos que Paula Rego produziu para ilustrar várias destas nursery rhymes populares descobrimos a mesma estranheza e um princípio de crueldade que as próprias rimas sugerem. Ovos animados que se partem, sem remédio, bébés que caem, nos seus berços, do cimo das árvores, velhas que espancam crianças, camponesas que cortam os rabos aos ratos, etc, encontram eco na dureza e assombração maravilhosa do traço duro de Paula Rego, na sua duplicidade, por vezes de carácter quase sexual, pairando entre a (suposta) inocência das brincadeiras infantis e a violência.



São terríveis. São magníficos. 
Deixo-vos duas rimas muito populares, com as respetivas ilustrações


Humpty Dumpty

Humpty Dumpty sat on a wall, 
Humpty Dumpty had a great fall,
    All the king's horses,
    And all the king's men,
Couldn't put Humpty together again.

(apesar de Humpty estar, aparentemente, no centro da imagem, noto a menina no canto inferior esquerdo, com a sua expressão física de indiferença e recato, e a expressão malévola do seu rosto. Pergunto-me: como é que Humpty caiu do muro?)









Rock-a-bye, baby

Rock-a-bye, baby, on the tree top,
When the wind blows the cradle will rock;
When the bough breaks the cradle will fall,
Down will come baby, cradle and all.

(já nem me referiro à crueldade da quadra; noto o agigantar desta "mãe-avó" de formas avantajadas e, diria, grosseiras, e o rosto marcado pela dureza, que parece surpreendida e irritada pela queda do ramo. Esta figura feminina forte, esmagando os ramos, sugere-me ao mesmo tempo uma deusa-terra, poderosa, e uma terrível gigante dos contos de fadas...)

1 comentário:

Anónimo disse...

se é fã de Paula Rego, visite...

www.facebook.com/paulafigueiroarego


cmpts.