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quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

História do Novo Nome - Elena Ferrante

Resultado de imagem para História do Novo Nome - Elena FerranteTem-me apetecido cada vez menos dissecar os livros e transformar a leitura informal, por prazer (são todas, ou não as termino) em opiniões. Sinto-me, de certa forma, comprometid com os objectivos iniciais deste blogue, e por isso vou fazendo o esforço, que, tendo em conta  aminha formação, devia ser também ele um exercício prazeroso, mas nem sempre é. 

Ainda hoje, numa opinião no GoodReads sobre o volume seguinte da Ferrante, uma leitora diz que se sente contagiada pela ferrantefever. Também eu devo ter uma pontinha dessa febre, porque mergulho nestas histórias azedas com gosto e chego ao fim cheia de vontade de continuar a lê-las, mesmo que tanto na história e nas personagens seja desagradável.Tem de haver alguma espécie de magia na forma como a autora tece os pequens acontecimentas banais e/ou desagradáveis, as pequenas ilusões e desilusões, as traições que, sendo insignificntes, vão moldando a vida de quem as vive. São tratados de psicologia com um tantinho de boa História, porque o ambiente de uma certa época (agora anos 60), numa certa zona de Itália (bairros pobres de Nápoles), se consegue respirar. Ou é irrespirável, se preferirem.

Não poderia, em abono da verdade, dizer que é fácil contactar com estes ambientes degradados. Não falo só de degradação física, de pobreza ou sujidade, que são omnipresentes no bairro pobre onde a maior parte da acção se centra, e que parece pegar-se, como uma gosma, aos outros locais que, ao longo da história, vão frequentando e não são pobres. Falo também de uma espécie de degradação moral. que advém da miséria e da escassa educação, e que conduz aos impulsos violentos, à mesquinhez e à inveja de que padecem quase todas as personagens. No caso de Lenú (e adivinha-se que noutros também) adiciona-se uma espécie de consciência insegura da sua própria insuficiência, como se a miséria se agarrasse à pele e pudesse mostrar-se a qualquer momento, na circunstância mais inesperada. Infelizmente, sem ter origem nem conhecimento da miséria, compreendo demasiado bem a sensação de insuficiência e identifiquei-me, num ou noutro momento, com Lenú. Talvez nos suceda a todos.

Esta impressão de Lenú permeia todas as suas palavras e actos, desde os mais cobardes aos mais corajosos, faz empalidecer os seus sucessos, impede-a de se impor. Esta, que é uma história coming-of-age, atravessando os últimos anos da adolescência das duas jovens - e seus companheiros de infância - e a sua entrada intempestiva na idade adulta, é também história de sucessos e insucessos, desses de todos os dias, fazer um curso, arranjar um emprego, mudar de emprego, ser reconhecido, ter namorado, casar ou não, ter filhos ou não, ter ou não dinheiro, roupas, um carro. Não é épico, a não ser na vidinha de cada um. E, como na vida, se calhar, o tempo traz, leva, traz, leva. Nenhum sucesso ou insucesso parece permanecer, tanto que, por vezes, chega a cansar abrir caminho por entre a lama deste livro.

A personagem de Lila, Lina, Lennucia, o que quiserem, desde o primeiro livro indutora de boa parte dos sentimentos bons e sobretudo maus de Lenú, é-me abominável em tudo o que faz, porque tudo o que faz se centra quase em exclusivo na sua vontade e no seu umbigo. Parece-me desprovida de generosidade, porque mesmo a sua generosidade é interesseira. Se ela me chega assim por lê-la através das palavras de amor-ódio de Lenú - demasiadas vezes pronta a encontrar motivos para invejá-la, mas, ao mesmo tempo, para perdoá-la - ou se sou eu que leio nas entrelinhas, para além do fascínio da sua persnalidade aparentemente apaixonada, não sei. Nem me importa. Estas personagens, estes lugares, estes acontecimentos, não foram feitos para ser amados. Como na vida, existem. E nós lemo-los como nos aprouver, de acordo com as nossas próprias experiências. 

Terminado este, não posso se não querer muito continuar.
    

2 comentários:

Cristina Torrão disse...

Algum dia também vou ter de ler Elena Ferrante...

Carla M. Soares disse...

E vou hoje para o terceiro, cheia de vontade! Bjnho!