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sábado, 28 de junho de 2014

imagens que inspiraram, parte 2

Alguém disse, numa das primeiras opiniões, que ler A Chama O Vento lhe tinha dado uma fome bestial, em momentos, e vontade de tomar um cafézinho, porque estão referidas pastelarias e cafés de Lisboa, uns identificados, outros não...

É a segunda partilha de fotos inspiradoras, uma amostra entre as muitas que fui guardando em pastas... As primeiras páginas do ebook podem ser lidas aqui, e pode ser comprado aqui.

Enjoy!



Olhei de esguelha para a foto que guardara para o fim. Devia ter sido tirada por um daqueles fotógrafos de câmara às costas das pracetas de Lisboa, que costumavam esperar lá por quem quisesse congelar um momento no tempo. Pareceu-me que talvez estivessem junto à fonte do Rossio. Ao fundo distinguia uma esplanada que podia muito bem ser a da Pastelaria Suiça. O ambiente era inteiramente Cary Grant, mulheres e homens de chapéu, fatos de época, uma certa agitação em suspenso... Sorri involuntariamente, imaginando a avó num filme de espionagem, a preto e branco, que tinha visto na televisão há muitos anos. Não me recordava do nome, mas as imagens tinham-me ficado na memória, por ter sido filmado em Lisboa. Era risível, a ideia.



- Já lho tinha dito. Que amei a sua avó. – esperou que eu anuísse antes de prosseguir – Reencontramo-nos em 1940, já a Europa estava em guerra há dois anos e Lisboa estava cheia de estrangeiros. Há muito tempo que não a via. Desde ‘35 ou ‘36 que não íamos ao norte, o pai andava demasiado ocupado, e tinhamos feito amigos por cá. Ir a Braga deixou de ser importante... Quando se está bem, as raízes são fáceis de esquecer. – suspirou –  Adiante. Sabe como meia dúzia de anos são uma eternidade na vida de uma criança? A Carmo era uma menina em Braga, e de repente voltei a vê-la, em plena Lisboa, e já não era. Um dia, estava eu na esplanada de uma pastelaria na Avenida da Républica que já não existe há muitos anos, um desses sítios que o tempo varreu da memória... – riu-se baixinho, muito longe no tempo – Já nem me recordo do nome. Bom, mas lá estava, quando a vi.



- Por isso é que deixamos de nos encontrar ao pé da escola. – prosseguiu ela – Disse-lhe que tinha medo se ser vista, mas foi mais por causa delas e... bom, para não ser vista também. Nas últimas semanas, temo-nos encontrado sozinhos. Fomos de táxi à Baixa, para lanchar na Suiça, passeámos junto ao rio e fomos a uma cafetaria engraçada na Praça do Comércio. Tinha uns quadros modernos nas paredes. O Dekel apresentou‑me a uns amigos estrangeiros, muito simpáticos. – riu-se – Não que tenha conversado muito com eles, mal falavam português, mas mesmo assim…


Procurou-o nos locais do costume, varrendo primeiro, de uma assentada, os cafés onde se encontrara com o holandês noutras ocasiões. No Monumental e no Martinho não o tinham visto, nem nesse dia, nem na véspera. Um empregado lembrava‑se de o ver na véspera, no Chave d’Ouro. Tendo em conta a dimensão do estabelecimento e o número de clientes, era quase um milagre conhecerem-no.
- Tenho a certeza. Era o Sr. Fenenbaum. – garantiu o empregado. – Veio cá ao fim do dia, tomou uma bica e comeu um par de pastéis às pressas.
- Estava alguém com ele?
- Que me lembre, não. – negou o rapaz – Acho que não falou com ninguém e não jogou bilhar. 


repito: (estas imagens, como disse, foram recolhidas na net. Se a publicação no monster ofender susceptibilidades ou direitos de autor, uma mensagem basta para que as retire de imediato... De resto, obrigada a quem em primeiro lugar as tornou públicas)

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