Uma Mulher Respeitável é o segundo livro de uma (espécie de) trilogia que inclui A Filha do Barão e e um terceiro livro de cujo título não estou segura - e fica por isso para mais tarde. Não requer, porém, a leitura de A Filha... para ser compreendido ou apreciado. Quem o tiver lido, porém, poderá acrescentar à história qe a Célia Correia Loureiro escreveu mais uma camada, uma vez que fica a conhecer o destino de algumas personagens já familiares.
É preciso ler este livro, se não com tempo, porque os capítulos curtos e o estilo fazem com que voe, decerto com atenção. A Célia construiu-o como uma espécie de puzzle, ou como um daqueles palácios de espelhos, ou as duas coisas ao mesmo tempo. Somos apresentados às personagens num certo ano, numa determinada fase da sua vida, e depois recuamos, por vezes muitos anos, por vezes menos, e regressamos depois ao monento inicial, para logo recuarmos mais uma vez, e neste jogo de flashbacks vão-nos sendo acrescentados novos dados, novas facetas à história e às personagens - umas mais surpreendentes do que outras, umas com mais desenvolvimento do que outras. Nada é linear e muito pouco aquilo que parece, e mais não digo, sob risco de fazer aqui um grande spoiler.
A escrita é escorreita, adequada à época, cuidadosa. A pesquisa, tanto quanto me é possível perceber, é muito sólida, nos factos e nos detalhes. É muito fácil sentirmo-nos transportados para a época.
Disse a Célia no lançamento deste livro, que tive o prazer de apresentar, que não sabe escrever livros felizes. É verdade, este é o quarto livro da Célia que leio e posso comprovar: há sempre algo de trágico nas suas histórias. Boas histórias, bem contadas, bem escritas, com personagens que nem sempre nos são simpáticas, nem devem ser. Acontece o mesmo neste livro, e mais uma vez não avanço nada que seja spoiler. A Célia sabe, porque já tive oportunidade de lho dizer, que gosto de um pouco mais de "luz", um pouco mais de esperança a contrapor à tragédia, uma possibilidade de felicidade para as personagens, nem que seja apenas uma sombra, etc. Escrevermos e fostarmos de coisas diferentes é, porém, o que faz da literatura uma coisa tão versátil e interessante.
Quanto ao livro da Célia, cuja oferta e oportunidade de apresentar agradeço, é ler, senhores, porque vale mesmo muito a pena. E é ler os livros futuros, porque a Célia é uma menina e, como já disse, a este ritmo e já com esta qualidade, quem é que a agarra?
Sem comentários:
Enviar um comentário