Creio que trago todas as escuridões
em desconcertadas folhas sobrepostas,
dançam como lençois de viúva em sacadas estreitas.
Conheço bem as raízes anciãs das suas histórias,
rasgadas à bruta de velhos diários.
Era outra essa que ficou na tinta,
talvez por isso recuso a boca negra do abismo.
Nada nela me surpreende ou choca.
Nada me seduz na certeza de um vazio opaco.
Do outro lado há o brilho simples
da luz branca da manhã, eterna cada manhã
no dom de se repetir sempre diferente.
Sacudo das asas o orvalho escuro
mesmo plumas de chumbo hão de voar,
viro para o sol os olhos, e com eles a alma,
se alma há em preferir um raio de sol
encontro beleza num fôlego apenas,
depois em tudo, na linha de água e no asfalto,
no abraço de fogo do Outono às árvores
no cansaço dos dias das noites dos dias das noites
nas telas que se pintam com tintas e palavras
e imagens e sons e gestos e silêncios
1 comentário:
É um cliché mas não adianta negar a escuridão. O melhor é domá-la e usar em nosso proveito quando a vida assim o exige. Escrever ajuda!
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