Páginas

quarta-feira, 6 de abril de 2016

depressa se consome

e quando de todas as coisas que preenchiam
as salas e quartos de uma vida
não restar mais do que um grão de poeira em contra-luz
e quando se implodir o que um dia foi prometido
e quando do que preenche o corpo
diz que alma diz que espírito
ficar apenas uma linha vertical a unir os pés com a cabeça
sem lado de cá nem lado de lá
quando já não houver pôr nem nascer do sol
e todo o dia toda a noite forem névoa cinzenta
deslizar de horas sobre horas sem relógio a medi-las
que se pedirá então a quem está despido
do início e do olhar que se põe no fim do caminho
e até do que é recheio e acende luzes
se é só cápsula depressa se consome
quebra-se a linha soltam-se as partes cala-se a voz
e em si mesmo se dobra e assim morre

Sem comentários: