Não me lembro de todos - há um ou dois nomes que me passam ao lado e outros que nunca me convenceram enquanto agentes secretos. Há os icónicos, claro, Sean Connery, um charme, e Roger Moore, um canastrão que encheu muito bem os sapatinhos da figura de Bond. Pierce Brosnan não se saiu mal, consegue aquele ar de sedução de bolso e de misoginia assumida que assenta bem à série. E não lhe saía um cabelo do lugar. Ficavam bem numa série cheia de improváveis, impossíveis, armas estranhas e estranhas geringonças, vilões do piorio e mulheres seminuas, muita acção, etc, deliciosos clichés que era (é) preciso aceitar antes de ver o filme, ou não vale a pena vê-lo. Bond surgia neles como uma figura imediata - sem passado nem futuro, sem raízes, sem sentimentos, sem profundidade e, claro, sem escrúpulos ou fantasmas no que diz respeito à licença para matar".
O meu favorito é, nesse aspecto e em tantos outros, Skyfall (2012) com Casino Royale (2006) num segundo lugar relativamente próximo. Spectre tem um ar de fim de série e, sabendo que 007 não acaba, sei no entanto que estamos provavelmente no fim do ciclo Daniel Craig, o meu Bond favorito. Reunem-se as linhas do passado e todos os fantasmas deste novo Bond, que trava uma batalha pessoal contra uma figura da sua juventude, ao mesmo tempo que se debate com uma ameaça muito moderna - temos a actualíssima questão orwelliana da vigilância global - ao serviço de quem, na verdade? Em favor de quem (nosso, da nossa segurança ou de entidades que acabam por ter na mão as nossas vidas?) e a contra quem (contra o terrorismo ou, a médio prazo, contra nós mesmos?). Bond surge como uma figura de outros tempos, todo o programa 00 prestes a ser considerado obsoleto, um resquício de outros tempos mais hands on, o individuo contra o sistema... um bocado como se discutissemos "o livro ou o ebook?". Os argumentos Bond não são de tremenda complexidade, por isso surgem, infelizmente, poucas nuances na defesa assumida dos primeiros contra os segundos (que faz sentido, claro, o contrário seria um tiro no pé da própria série). Nem é de grande complexidade o vilão ou as suas motivações particulares, mas tão pouco é o que se espera de um filme de Bond.
Em conclusão: este filme não será o melhor da série, mas vi-o com agrado. Não envergonha de modo algum a "dinastia" Craig que, temo, tenha chegado realmente ao fim. Não só li por aí declarações do actor a dizer que preferia uma coisa qualquer terrível (do tipo contrair lepra) a voltar a fazer de Bond, como o fim me soa mesmo, mesmo a fim de ciclo, uma espécie de fim feliz à moda do 007... mas comm a mulher vestida e sem oh, James.
nota: já faz uma semana que vi o filme... que só faça agora uma opinião é testemunho da minha falta de tempo... e, com ele, de imaginação para estas coisas.
nota: já faz uma semana que vi o filme... que só faça agora uma opinião é testemunho da minha falta de tempo... e, com ele, de imaginação para estas coisas.
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