Por motivos que se relacionam com nomes de livros e outras coisas de que um dia destes falarei, apeteceu-me partilhar um excerto pequenino do A Chama ao Vento, nome provisório ou talvez não, do livro que vão poder ler em breve... ou talvez não. Misterioso? Confuso? Não, na verdade não.
Aqui está o excerto, todo pequenino.
"Durante
os anos da minha adolescência, acreditei que talvez fossem assim todas as
mulheres com uma certa idade. Mais tarde, descobri que não, que as havia
vibrantes e determinadas. Que algumas dessas mulheres antigas tinham tomado as
rédeas das suas casas, outras ainda as das suas vidas, contra pais e mães e
maridos, contra um sistema que as empurrava para o confinamento do lar, para o
cuidado dos filhos. Outras, ainda, na sua quietude, eram reais. Estavam vivas.
Mas não a avó. Suspeitava que a Carmo-mulher se ocultara atrás da Carmo-esposa,
da Carmo‑mãe, da Carmo-avó. Não sabia quando a escondera, se no dia em que o
pai a proíbira pela primeira vez de sair sozinha ou de mostrar as pernas na
praia, sabia lá se o tinha feito, ou se no dia em que dissera que sim ao meu
avô. Permanecera soterrada até ao dia da sua morte. O certo era que, mesmo depois
do falecimento do avô, as minhas escassas tentativas para fazê-la sair do seu
jazigo prematuro se tinham provado inúteis. Talvez a mulher se tivesse
ausentado de vez da concha oca que era o corpo da avó. A mulher apagara-se de
dentro da avó.
A candle in the wind.
Não sabia o que seria
mais triste, se calar ferozmente o tumulto interno, dia após dia, ou viver uma
vida inteira de coisa nenhuma. Apagada."
(A Chama ao Vento, pág 53)
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1 comentário:
Muito interessante...
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