a coragem de esperar

Um dos meus queridos alunos, rapaz dos seus catorze anos, fez hoje, na aula, um speaking em que, presumo, resumia os ensinamentos do livro de não sei quem, O Segredo. Nunca o li, não adiro com facilidade a livros de auto-ajuda.

O jovem em questão disse coisas certas e coisas com as quais, como lhe disse, não podia concordar: 

afirmou (pareceu-me bem) que devemos fixar-nos naquilo que desejamos para o futuro; que devemos ter a paciência para esperar. Também afirmou, e isso já não me parece tão bem, que devemos viver como se já o tivessemos obtido e não devemos "perseguir" o sonho, que ele há-de vir ter conosco.

Enquanto o jovem dizia tudo isto, eu pensava no meu sonho de publicar. Não me pareceu adequado falar nisso no momento, mas a verdade é que serviria como exemplo. Esse desejo ainda estaria por concretizar, se eu tivesse decidido apenas... esperar. Como é que a REALIDADE, que se faz tantas vezes cega aos nossos sonhos, teria feito para ver-me, se eu não me tivesse mostrado? Hummm.  Pois. Como é que alguém, e principalmente a editora, saberia que eu escrevo, se não me deixasse de mariquices (leia-se vergonha e timidez) e não me "chegasse à frente"? Por magia? Com um elfo cuscador de gavetas e discos rígidos, com faro de cão polícia para originais publicáveis? 

Pensava também que, em vésperas (mais ou menos) da publicação, já com capa, sinopse e tudo, e apesar de ter outros volumes na gaveta, ainda não me vejo como E-S-C-R-I-T-O-R-A. (Ssshhhttt! Aiiii, que responsabilidade para as minhas pobres frases!) Pensarei em mim dessa forma alguma vez? Se calhar não. Portanto, como pensar em mim assim, antes de o ser?

Mesmo com estas reservas, é admirável a ideia de que é preciso ter autoconfiança, acreditar e que, para tudo, é preciso saber esperar. Dar o passo, sim, tem que ser, mas saber que o sucesso não é imediato. Que o caminho pode ser longo e a vitória nem sempre chega quando gostariamos, mas que nada acontece se não começarmos por acreditar. 

Por isso, parabéns, rapaz, mas não te deixes levar cedo demais pela convicção de que já és. Podes deixar de lutar pelo que hás de ser.