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terça-feira, 11 de abril de 2017

Azul-errado

Estou no cimo de uma estrada larga, num recanto perdido no meio das montanhas, e abre-se à minha frente uma avenida larga, que desce até ao fim da ravina. É de um desses azuis vivos e suaves que precisam de outro nome, azul-cobalto, azul-celes, azure, azul-real, azul da pérsia. Azul-sonho.
A ladeá-la, casas coloridas, banhadas também ela de azul translúcido, como se à beira de uma piscina. Têm telhados pálidos, em triangulo, caixilhos brancos nas janelas e portas. Há flores nas sacadas e um rio a gorgolejar algures, sei que há, mas não o vejo. Creio que o ouço, mas não sei se há som nos sonhos. Por trás, a floresta escura ameaça.
Desço e, de perto, nada é tão bonito. Há vidros sujos e, onde as casas eram pequeninas e delicadas, são agora as casas de cimento cor-de-burro-quando-foge das nossas terras mais feias. O desapontamento é brutal. Nos sonhos, estas coisas são sempre brutais.
De repente, desemboco outra vez no cimo da avenida, acabada de percorrer a custo a longa estrada, porque é de noite e acho que estou perdida. Fico sem fôlego. Lâmpadas douradas iluminam a larga rua e transmutam o postal de encanto pitoresco num cenário de contos de fadas. Podiam irromper elfos da floresta para dançar, envoltos em pirilampos, com as meninas que sairiam das lindas casas, com sardas no rosto e flores nos cabelos.
Não quero descer a rua. Prefiro acordar. Acordo. Não estou encantada. Há algo errado. No cenário, no que eu fazia no sonho. Não sei o quê. Não me lembro.
Não havia sapatos à entrada, mas lembro-me agora de Tim Burton e Big Fish.
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