Páginas

sábado, 21 de março de 2015

Dia Mundial da Poesia? Pois então um quadro e quase um poema


No Dia Mundial da Poesia, fica um quadro que é um poema de luz, forma e cor, de um enorme poeta das imagens. 


Hotel Room, de Edward Hopper, 1931


O que lês, mulher? 
Ficaram palavras no seu lugar?
Está na linha dos teus ombros
nos polegares hirtos. 
Que escassa a cor 
dessas palavras, que indolente
a lâmina que te fere.
Não compreendo.
Pousa dobrado esse abandono
ou hão-de sufocar-te 
as paredes de luz 
as sombras de corpo
as ilusões que ainda ontem 
arrumaste em papel de seda.
Ontem ainda o seu corpo era o meu.
E tu lês, mulher, lês
enquanto elas se cobrem
de cinzas incrédulas,
e a luz procura os teus joelhos juntos
Ontem ainda eram de fogo as suas mãos. 
Desarruma o mundo, mulher,
e segue, mulher, segue, mulher, segue,
que  a ausência é fria e impiedosa nos lençois.
Ainda ontem era de sangue o seu amor.
Desalinha o corpo, 
move um ombro, aperta as mãos,
erverga se quiseres o vestido de ontem,
que tempo desse quadro acabou.
O comboio das dez suspira e chama,
e ele não te espera na estação.


E agora ide, ide ler um poema de verdade.

Sem comentários: