No Dia Mundial da Poesia, fica um quadro que é um poema de luz, forma e cor, de um enorme poeta das imagens.
Hotel Room, de Edward Hopper, 1931
O que lês, mulher?
Ficaram palavras no seu lugar?
Está na linha dos teus ombros
nos polegares hirtos.
Que escassa a cor
dessas palavras, que indolente
a lâmina que te fere.
Não compreendo.
Pousa dobrado esse abandono
ou hão-de sufocar-te
as paredes de luz
as sombras de corpo
as ilusões que ainda ontem
arrumaste em papel de seda.
Ontem ainda o seu corpo era o meu.
E tu lês, mulher, lês
enquanto elas se cobrem
de cinzas incrédulas,
e a luz procura os teus joelhos juntos
Ontem ainda eram de fogo as suas mãos.
Desarruma o mundo, mulher,
e segue, mulher, segue, mulher, segue,
que a ausência é fria e impiedosa nos lençois.
Ainda ontem era de sangue o seu amor.
Desalinha o corpo,
move um ombro, aperta as mãos,
erverga se quiseres o vestido de ontem,
que tempo desse quadro acabou.
O comboio das dez suspira e chama,
e ele não te espera na estação.
E agora ide, ide ler um poema de verdade.
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