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quinta-feira, 22 de maio de 2014

Sê feliz.

- E se eu te deixasse amanhã? Pedias-me mais uma hora? Outro dia?
- Não te pedia nada. Só para me deixares ler em paz.
- Mentiroso. Ias querer que ficasse. Que o teu sol expulsasse as sombras de todos os meus recessos, ou assim. E se te dissesse que amo as minhas sombras, ou que tenho um sol só meu?
O suspiro do costume, impaciência masculina.
- Deixa-te de frases parvas. É muita treta para esta hora.
- Pensei que gostavas de palavras.
- E gosto, mas estou farto de ouvir as mesmas coisas. Quero ler.
- Estás farto de me ouvir? Mas amas-me...
Abriu o livro na página marcada.
- Já te amei, sim. Agora sei lá. Estou cansado.
- Eu não te amo.
Susteve a custo o encolher de ombros.
- Não. Se calhar não nos amamos. Que importa, se te vais embora?
- Não sei se vou.
Não disse que não sabia como ir, para onde ir.
- Olha, se vais, sê feliz. Se queres fica, faz como preferires. Mas deixa-me acabar isto.
O silêncio pesou no ar, azedo de um lado, vazio do outro. Do lado dela apagou-se a luz. Ele ficou a ler. Leu dois capítulos antes de desligar o candeeiro. Ela não dormia ainda. Ele adormeceu num instante.

3 comentários:

Rosana Maia disse...

Olá Carla :)

Confesso que ainda não tinha lido nada escrito por si e a verdade é que fiquei de certa forma comovida :)
É-me difícil explicar o que senti a ler, mas não podia deixar de comentar e de lhe dar os parabéns. :)

Rosana
http://bloguinhasparadise.blogspot.pt/

www.elianedelacerda.com disse...


Gostei do seu texto,querida!
Muito bom!
espero que nunca pare de escrever, eu também escrevo como louca e este é meu remédio, minha vitamina, meu gás da vida!
estou lhe seguindo!
bjus
http://www.elianedelacerda.com

Carla M. Soares disse...

Obrigada, meninas!

Os meus textos são diferentes uns dos outros - o Alma Rebelde do A Chama ao Vento, os outros que estão por publicar, incluindo os de fantasia... e os poemas e os pequenos textos do blogue! Espero que, conforme forem conhecendo a minha escrita, vão gostando das suas facetas!