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domingo, 27 de abril de 2014

no bolso

Desperta ainda cedo com o mar ao fundo e na cabeça um compasso de compositor. Tem o silêncio da casa enrolado nas pernas, um pedaço de sono debaixo da língua e o cheiro à noite colado na pele. O braço que estende toca-se a si mesmo e o dia tarda em começar nas margens do corpo com forma de cama. Com passos instântaneos irrompe pela casa. Na mesa onde se senta há um risco da cor da maresia, sabem-lhe a café esta manhã e as outras.  

Pousa as mãos sobre a mesa e o tempo desliza ao ritmo que escolheu. Traz a vida no bolso dobrada ao meio para abrir nas horas em que lhe apeteça espreitar o que foi, traçar mais um risco a régua e esquadro nos dias adiante. Fora do seu bolso há coisas que acontecem, o vento a tempestade e o calor que geram os corpos se chocam com alma por dentro, curvas desmoronam a frigidez das linhas. Ele segue a direito nas esquinas quadradas, com os seus dedos que dobram as linhas do mundo e as forçam à estrada que pavimentou.  



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