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terça-feira, 8 de outubro de 2013

Os livros que nunca me atraem

Pus-me a pensar nisto porque, pela primeira vez, fiquei a olhar para um título no GR, do tipo "Como X" (lidar com os seus filhos, actuar com crianças difíceis, ser mais feliz, atingir o nirvana, etc, etc). Este tem um ar profissional, mas mesmo assim causa-me muita relutância, e apercebi-me dos tipos de livros que nunca compro, nunca olho duas vezes, e me arrancam um tssk interno quando vejo na mão de amigas.

Auto-ajuda. Espiritualidade. Religião. Casos reais, médicos ou outros.

 

O único livro desses que li, enganada pelo título, foi do Deepak Chopra (tipo A Travessia para Avalon, ou qualquer coisa com Merlin no título, já não me lembro). Era bastante nova, talvez tivesse uns dezanove anos, e custou-me horrores a ler. Primeiro não percebia nada...  pois, não era nada do que estava à espera! Quando me apercebi do que era, lá fui lendo, com um ttssskkkkk, interno a mim própria. Detestei e nunca mais comprei nenhum. Não posso dizer "desta água não beberei", mas só a bebo se estiver a morrer de sede. Ou se me obrigarem.

É falha minha, não entender o conforto que as pessoas possam tirar da auto-ajuda, por exemplo. Parece-me sempre que procuram alguém que lhes diga que o que já sabemos todos: que é preciso olhar para a frente, nunca desistir, não nos deixarmos arrastar pela negatividade, o que é muito mais fácil do que manter a cabeça acima da linha de água. Eu nem sempre consigo, mas antes mesmo de soçobrar, costumo chorar um bocadinho, respirar fundo, levantar o nariz (fisicamente!) e dizer NÃO. Mesmo não, em palavras. E pensar noutra coisa, ocupar-me muito. Sabemos todos que manter a energia e fazer o esforço, walk that mile, é meio caminho andado para chegar ao destino. Que de vez em quando é preciso fazer mudanças, para abanar a árvore da vida: um corte de cabelo, uma actividade nova, dar esse passo em frente que se hesita em dar. Mesmo que não dê em nada, uma pequena rajada de vento areja sempre. Também pode destruir um bocadinho. Reconstroi-se. Parece-me lógico que amor e elogios fazem bem ao ego. E se fazem bem ao ego, fazem bem a tudo. Bons amigos ou família que nos ame, ama sempre, estão lá para isso. Enfim. Não se é sempre feliz, mas segura-se as pontas e vai-se sendo feliz.

É quase o mesmo com os de espiritualidade e religião (não falo dos informativos, mas daqueles tipo "uma oração salva-o"), porque acho sempre que se procura noutro lado uma compensação para este lado. Isso implica que este lado, a vida, não chega, que falta à pessoa qualquer coisa e precisa de uma força extra. É válido, claro, procurar assim o equilíbrio, mas estamos de volta ao mesmo. Reconheço o direito a acreditar, evidentemente, até acho que deve ser um grande conforto. Às vezes até penso "quem dera", era mais fácil pôr as coisas em mãos alheias. Pessoalmente, acho que estamos por nossa conta e as nossas 21 gramas são energia pura, electricidade que regressa ao mundo quando morremos. Boas e más energias? Sem dúvida - boa e má electricidade, que contagia os outros. É natureza. 

Estendi-me num post que era para ser pequenino!! Aqui está, aqui está o motivo porque não escrevo contos!  Ah, e eu tenho a escrita para me equilibrar e desiquilibrar... até "ressaco" quando estou sem escrever muito tempo.





1 comentário:

Cristina Torrão disse...

Um dos grandes problemas, neste tipo de literatura, é que é muito difícil distinguir obras de qualidade, com boas bases científicas, de outras que se disfarçam por baixo de títulos bombásticos, que nos prometem soluções que não existem. Livros sérios, de psicólogos experientes e competentes, podem dar-nos sugestões interessantes. O importante é que tenhamos consciência de que não se trata de fórmulas milagrosas, mas de sugestões que, em determinadas circunstâncias, nos poderão ajudar.

O problema é, também, que as pessoas que devoram livros destes acreditam que podem modificar a sua vida sem esforço.