O que eu gostava que este restaurante fictício existisse, para de lá poder ver Lisboa assim mesmo, enquanto jantava "o que me apetecesse"!
"Os olhos de Camila absorveram
silenciosamente o lugar. A intervenção recente repusera as janelas da parede do
fundo, alargando-as discretamente, para permitir que a vista da cidade
encantasse os clientes. Derramava-se para lá das vidraças, até ao rio, numa
profusão janelas iluminadas sob telhados escuros, candeeiros de rua e faróis em
colorido movimento. Para a esquerda, distinguiam-se as formas
familiares e bem iluminadas do Castelo, amodorrado e vasto, no alto da sua encosta irregular e arbórea,
percebia-se vagamente o abaulado da Sé e, ao fundo, adivinhava-se o espaço
aberto da Praça do Comércio, antecipando a fita negra do Tejo, interrompida
pelos pontos de luz sucessivos das duas pontes. Outros edifícios, que eu
reconhecia mas ela talvez não, destacavam-se aqui e ali. A imagem que me ficava
sempre era a de uma uma magnífica matrona, de vestes brancas ao sol e negligé
rendado nessas horas nocturnas, deitada à beira rio, matutando tranquilamente
nas suas contradições de mulher madura. Uma cidade onde eu não nascera, mas que
me acolhera no seu vasto seio e era a minha, porque a amava mais do que qualquer
outra. Camila aproximou‑se da parede de vidro e os seus olhos... meus, os meus olhos, deslizaram lentamente
sobre as colinas de telhados escuros e luzes trémulas."
O Olhar da Besta, em revisão, pág 112
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