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terça-feira, 24 de setembro de 2013

Lisboa, velha senhora

O que eu gostava que este restaurante fictício existisse, para de lá poder ver Lisboa assim mesmo, enquanto jantava "o que me apetecesse"!

"Os olhos de Camila absorveram silenciosamente o lugar. A intervenção recente repusera as janelas da parede do fundo, alargando-as discretamente, para permitir que a vista da cidade encantasse os clientes. Derramava-se para lá das vidraças, até ao rio, numa profusão janelas iluminadas sob telhados escuros, candeeiros de rua e faróis em colorido movimento. Para a esquerda, distinguiam-se as formas familiares e bem iluminadas do Castelo, amodorrado e vasto, no alto da sua encosta irregular e arbórea, percebia-se vagamente o abaulado da Sé e, ao fundo, adivinhava-se o espaço aberto da Praça do Comércio, antecipando a fita negra do Tejo, interrompida pelos pontos de luz sucessivos das duas pontes. Outros edifícios, que eu reconhecia mas ela talvez não, destacavam-se aqui e ali. A imagem que me ficava sempre era a de uma uma magnífica matrona, de vestes brancas ao sol e negligé rendado nessas horas nocturnas, deitada à beira rio, matutando tranquilamente nas suas contradições de mulher madura. Uma cidade onde eu não nascera, mas que me acolhera no seu vasto seio e era a minha, porque a amava mais do que qualquer outra. Camila aproximou‑se da parede de vidro e os seus olhos... meus, os meus olhos, deslizaram lentamente sobre as colinas de telhados escuros e luzes trémulas." 
O Olhar da Besta, em revisão, pág 112

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