O sol
acabava de pôr-se, uma bola de fogo sobre um horizonte despido de nuvens. A
Nordeste, os primeiros dias do Outono eram amenos, o vento feroz do Inverno
tardaria ainda a chegar. A chuva era outra história. Se tivessem sorte, raras
bátegas tombariam do céu sobre o Mão, o céu desmanchando-se em trovões e
relâmpagos, em tempestades sucessivas, temíveis mas muito desejadas em Ich-ar.
Eram tão raras que Eivi só vira, em todos os anos da sua vida, três vezes os
rios de lama nascidos desses dilúvios, só três vezes vira transbordar o fosso e, de uma delas, vira
tombar casa sob a corrente. Dessas vezes, o Prata engrossara e subira,
submergindo as árvores das margens, tinham-se enchido os canais subterrâneos
que alimentavam os poços e furos, o solo enriquecera e o Mão transformara-se
num campo de pequenas flores amarelas, azuis e roxas. Os anos seguintes eram
sempre de abundância.
Observou depois
as casas, em cujas janelas se acendiam aos poucos tremeluzentes lampiões. Ali
talvez essas chuvadas não fossem bem vindas. Talvez nesses dias o mar trepasse
o areal, invadindo o casario, e desabasse sobre o pontão, desfazendo-o em
pedaços que depois arrastaria para o fundo. Talvez, na sua fúria, engolisse
barcos e gentes.
Ou será o Prata a comer as margens e tudo o que nelas se
cria?
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