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quinta-feira, 28 de março de 2013

Em Londres

li três livros no kindle, na viagem de avião, nos momentos de descanso e numa noite de insónias, e nenhum me encheu as medidas. Nos próximos dias vou fazer o balanço dessas leituras.
 
Hoje, um post para aquilo de que mais gostei (e menos) por lá.
 
Primeiro, uma nota negativa para o caos do trânsito. Continuo a não perceber como é que nenhum autocarro atropela alguém, como é que não chocam a toda a hora. Não é por ser ao contrário, é pelas rasas que passam! Mesmo assim, ou por isso mesmo, mal se espera pelos autocarros e as viagens não são demoradas, mesmo estando tudo em obras! Outra nota negativa para o frio gelado, sempre abaixo de zero, que só não me apanhou de surpresa porque sou uma mulher muito prevenida nestas coisas - e detesto frio. Vesti-me a rigor para ele e para as caminhadas, com  o conforto possível em camadas sobre camadas de roupa, cachecol e chapéu quentinhos, e mesmo assim muitos foram os momentos em que gelei. Disso não posso dizer que tenha gostado disso, foi uma luta para não deixar que tanto frio me estragasse o prazer de estar um número de dias decente numa cidade tão viva e interessante. 
 

A cidade é maravilhosa e mexe todos os dias e a todas as horas, mas isso eu já sabia. Nos monumentos, cafés, restaurantes não há momentos mortos. E não são só os turistas, os ingleses também. A uma segunda à noite, os restaurantes estão cheios, e só metade, se tanto, são turistas. Os cafés, com o frio, têm fila, e, sim, já se consegue um expresso (um 'espresso') razoável, embora caro. Os N sítios onde se come uma bela sandes ou outras comidas simples à hora do almoço estão cheios de turistas e de londrinos, a toda a hora, todos os dias. Mesmo ao Domingo. É bom ver uma cidade que, para além de bonita, está viva.
 
Andar pela rua vale a pena, mesmo ao frio. Corri quilómetros, em várias direções, a observar as fachadas, as casas de tijolo vermelho ou amarelo nalgumas zonas, que são tão diferentes das nossas, os edifícios grandiosos, e as montras das muitas e muitas lojas. Também vale a pena comprar um cartão Oyster e apanhar um double-decker (os autocarros vermelhos) que passam a toda a hora e nos levam para toda a parte, como o Metro, com a vantagem de que podemos ir vendo a cidade. Com o frio, é uma alternativa.
 
Claro que nas zonas dos monumentos é obrigatório andar a pé. Não vou falar na maioria porque são sobejamente conhecidos (Westminster, Buckingham, a Torre de Londres, a London Bridge, Hyde Park, etc, etc...). Tão pouco vou descrever as filas que se formam para tudo, nem as carneiradas que é preciso suportar para ver qualquer coisa, porque são óbvias. Essas também já conhecia, mas ainda não as tinha seguido. Reconheci em mim uma péssima turista, nesse aspecto, porque me enervou seguir as enormes massas de gente por todo o lado. Que remédio, porém, como é que via por dentro a maravilhosa Westminster Abbey, por exemplo, sem gelar na fila durante meia hora e sem seguir o mundo de gente lá dentro, num percurso mais ou menos pré-definido a que é quase impossível 'escapar'? Só a estrutura, o trabalho de estatuária, os tectos e vitrais valeriam a pena, a Abadia é magnífica, intrincada, esmagadora, mas para quem tem um conhecimento mínimo da História e Literatura Inglesas, é superb espreitar os túmulos dos reis e 'heróis' britânicos, as placas de homenagem, e o Poet's Corner, com todos aqueles nomes e bustos... A foto é da net, lá dentro não se pode fotografar...
 
Nestes monumentos paga-se bem para entrar. 18 libras na Abadia, quase o mesmo em St Paul, sendo que não cheguei a visitar esta igreja porque ao Domingo, quando lá fui, é dia de service, missas, e portanto não há visitas, e 21 libras na Torre de Londres. Também não entrei, a fila era imensa e o frio terrível. É como digo, sou péssima turista.
  

Ticiano, Baco e Ariadne
Os museus, porém, são gratuitos, como bem sabe quem conhece a cidade. Não há fila para bilhetes, e portanto visitei uns quantos. Foi maravilhoso ir ver os quadros que conhecia na National Gallery e no Tate. Fiquei feliz porque, mesmo sem ser uma conhecedora profunda, reconheci o estilo em muitos, 'acho que aquilo é um X', e muitas vezes era mesmo!! É muito mais fácil na arte moderna, porque a antiga segue preceitos de época que reduzem (mas não eliminam) a individualidade.
Seurat, Banhistas(?) em Asniéres
Confesso que gostei mais da National Gallery, porque nem sempre a arte moderna me seduz. Falo sobretudo de instalações e outras expressões mais recentes, que sou capaz de defender enquanto arte, se for preciso, mas que não aprecio. Falo por exemplo de amontoaos de pedras ou panos, ou de uma mancha na parede. Eh. Enfim. Também espreitei, completamente por acaso, a Sommerset House, onde havia uma exposição interessantíssima de fotografia, "Landmark: The Fields of Photography".  E fui ao Museu de História Natural, onde fiz ahhh e ohhh  com toda a gente perante as ossadas dos dinossauros, mas onde me maravilhei mais ainda - lá estou eu - com o edifício em si. Toda essa zona que abrange o Royal Albert Hall, as Royal Academies das diferentes artes, os museus de Ciências e História Natural, o Victoria and Albert Museum, até ao Harrods é muito bonita, possivelmente a minha preferida e a que eu não conhecia de todo.
 
Podia escrever metros e metros neste post, mas vou só deixar uma notinha para o lugar onde fiquei desta vez, Notting Hill, que adorei, e para a simpatia das pessoas em geral. E o momento mais divertido da minha estadia, logo na primeira noite: fomos a um restaurante italiano ali mesmo ao pé do hotel, já era tarde estavamos cansados e cheios de fome. Tinha meeeesmo fome!  Pedi canelonni, que adoro. Trouxeram-me um prato coberto por rúcula, enfiei o garfo e comecei a comer animadamente. À terceira garfada dei conta de que a rúcula cobria, não os meus canelonni, mas um prato de fusilli que devia ser o mais picante da casa. Era bom, gosto de picante  e tinha fome, por isso achei que aguentava e continuei a comer. A meio, já aflita, chamei o empregado. "Sorry, are you sure this is canlonni?" "No, it's fusilli."  E  eu, dah, pois. Continuei: "It's very good, but I ordered canelonni and this is really, really hot and spicy. But I like it, it's nice!" E sorri muito. O homem ficou para morrer. "I'm so sorry, I'm so sorry." E eu sorri mais, "It's okay, it's good. Just a little hot." Devia dizer frigin' hot!!  Ofereceu-nos os cafés e um gelado delicioso. Yey. Valeu a pena arder e queimar.
 

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