Certos realizadores, como certos escritores, têm marcas de estilo que identificam um filme como seu. Pode ser a insistência num determinado tema ou genre, pode ser a recorrência de assuntos dentro da intriga, pode ser a utilização de determinados actores, pode ser o tipo de argumento ou linguagem, podem ser aspectos visuais, ou alguma coisa de mais indefinível, em certo ambiente que nos faz dizer Este é um Scorcese, ou um Ridley Scott, um Burton, este é Wachowski... ou Tarantino.
Num filme de Tarantino podemos esperar um certo número destes pormenores - que não são de todo pormenores. Uma intriga complexa, por vezes com histórias confluentes ou que num ponto qualquer se cruzam, saltos temporais, personagens e/ou cenas marcantes, inesquecíveis, muito humor negro por vezes roçando o absurdo, violência justificada ou gratuita, acompanhada de cenas gore em que o sangue verte, escorre, esguicha, e cobre tudo de forma improvável e terrivelmente exagerada, uma banda sonora interessante e, no seu conjunto, filmes que são quase comic-ish - isto é, que nos fazem perguntar se por acaso têm origem nalgum comic,ou achar que funcionavam muito bem como um.
Não é, por um lado, um filme fácil de ver. Repugna ver rebaixada assim a condição humana. E é vilento, claro, da mesma maneira como são violentos, até ao absurdo, os filmes de Tarantino. Mas é um filme surpreendentemente humano na sua visão comic-ish do western (com o habitual jorrar de sangue em cenas de one against all em que as paredes acabam cobertas de vermelho). O filme sai da box na sua apresentação dos escravos? Sim, de certa forma, mas do meu ponto de vista não o suficiente para suscitar a polémica e a oposição de que ouvi falar, para mais das associações dos direitos dos afro-americanos. Não consigo, confesso, compreender de onde poderão vir, a não ser que se ofendam por ver exposto o que é óbvio - que também havia negros esclavagistas e pró-escravatura.
Sendo um filme duro, com uma personagem central soturna (Django não sorri, não diz piadas, não faz nada que possa ser considerado descontraído ou engraçado) mas não dispensa o humor negro que é tão Tarantino. Dei por mim a sorrir com frequência de algo que Schultz diz ou faz, de uma situação... Exemplo: a cena em que se desenha o princípio do Klu-Klux-Klan, e em que um conjunto de brancos encapuçados pretendem atacar Schultz e Django. Os capuzes foram feitos pela mulher de um, cortando buracos em sacos... e os atacantes não vêm nada. A discussão pré-ataque é de ir às lágrimas, tal o absurdo do contraste entre a situação e a intenção por trás dos sacos, ou, mais ainda, o que sabemos que dali advirá.
Jamie Coxx cria um Django credível, endurecido, irado mas ao mesmo tempo surpreendido pela oportunidade que lhe surge, Waltz enche o ecrã, DiCapprio,(Mr Candy) sempre bonito mas de dentes escurecidos enche-nos de um repulsa endérmica, Kerry Washington (Broomhilda) é a perfeita "princesa na torre", bela e delicada, e Samuel L. Jackson... bom, precisei de olhar duas vezes para reconhecê-lo.
Duro, muito bom, muito Tarantino, muito curioso para quem se interessa por esta época da História dos USA, dois anos, é dito no filme, antes da guerra civil americana, quando a Norte já se sentia o desejo da abolição, mas a Sul "they have never seen a black man in a horse before".
As restantes características estão
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