Nolan vira-o
pela primeira vez algumas horas depois da conversa com Torival, quando já tivera oportunidade de observar
cuidadosamente tudo o que o rodeava. Chegara à conclusão de que seria fácil
escapar, os saqueadores ignoravam os rapazes quando não precisavam deles. E
Nolan conhecia todos os caminhos do bosque melhor do que qualquer pessoa, mas
mesmo que os não conhecesse, parecia-lhe sempre que as plantas e os animais
escolhiam e lhe apontavam o melhor trilho. Os Corvos tinham magníficos cavalos, como
Nolan nunca vira, que podiam dar-lhes vantagem se não fosse o arvoredo denso
onde não era possível galopar. No entanto, não podia fugir. As palavras de
Torival martelavam-lhe no espírito, e um espinho de dor e arrependimento
temporão enterravam-se nele sempre que um dos jovens prisioneiros entrava no
seu campo de visão. O Corvo transformara‑os numa só entidade escravizada. E ele, mera roda na engrenagem,
não podia escapar.
Matutava na
ideia, olhando-a de todos os lados à procura de uma saída, quando o Chefe que
se aproximou. Era um homem temível, possante. Nolan era mais alto, mas a
sua figura emanava uma aura de poder que o engrandecia, e, por momentos, sentiu‑se
pequeno. O Corvo parou à sua frente. Nolan pensou, por um instante, que devia
levantar-se.
Não.
Que me matem, se quiserem.
Ficou onde
estava, sentado numa pedra, e levantou os olhos para o homem. Fitava-o, em
silêncio, com uma expressão de fadiga
irritada. Em vez de parecer uma mulher amuada, dava um ar duro. Nolan sabia que
era assim. Era igualmente implacável com os prisioneiros e com os seus homens.
Nolan foi o primeiro a desviar o olhar, incomodado pela natureza impiedosa que
neles encontrava, mas o Chefe continuou de pé, à sua frente, mesmo depois de Torival
se ter aproximado.
- Este vai dar-nos chatices, Chefe. – disse o
homem com a cara de pássaro.
- Hum.
- Acho que não
deviamos ficar com ele.
- Hum.
Hum,
o quê?, irritou-se Nolan, cerrando os lábios com força. Se
abrisse a boca, levava, no mínimo, outra pancada na cabeça. Ou o Chefe concorda e acabam comigo.
- Diz que
conhece bem a floresta e que não o encontravamos se quisesse deaparecer. –
riu-se – Mas de noite faz mais barulho que uma briga de doninhas.
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