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sexta-feira, 1 de junho de 2012

Estou sem tempo para ler nem escrever. Tenho muito trabalho. 
Não me interessa, vou mesmo fazer ambas as coisas. Vou ler:



E vou continuar o meu O Cavalheiro Inglês (provisoriamente). 
Um excerto ao calhas, das 181 páginas que já escrevi:

(Clara e o noivo que detesta, o Duque de Almoster, estão a caminho do palacete do Visconde da Granja)


- Tenha atenção às suas companhias esta noite – avisou Filipe, sem olhar para ela.
Clara impertigou-se e engoliu em seco, sentindo a irritação familiar a trepar. De repente, o ar na carruagem ficou muito abafado. Respirou fundo. Ou tentou.
Acalma-te. Fica caladaaconselhou a si própria. Como é que este homem, este pavão bêbedo, tinha essa capacidade? Duas ou três palavras, e ela ficava capaz de atacá‑lo com o que tivesse mais à mão. E não de forma benévola, com amizade, como a Tião. Para ferir. Tossiu ligeiramente, tentando libertar devagarinho a vontade de bater‑lhe, antes que tomasse conta dela e o duque acabasse com uma das pequenas pérolas da sua bolsinha encrustada na testa. Ele prosseguiu:
- Tenha cuidado. – o desprezo escorria das suas palavras, da voz seca e dura – Nem todas as pessoas que vão estar presentes esta noite são merecedoras da nossa atenção.
Sua Excelência o Idiota é que não merece a minha atenção, protestou Clara intimamente, mordendo o lábio para conter as palavras, e no entanto aqui estou!
- O Visconde é um homem de valor – o que devia querer dizer, achou Clara, que era de linhagem antiga. Quanto a valor... era outra coisa, não era? – mas teve a infelicidade de casar com uma mulher inferior. Uma burguesa, e inglesa, para mais. Hão‑de lá estar vários dos seus familiares e... outros. Espero não a ver acompanhada por nenhum deles.
Clara ainda abriu a boca para perguntar como raio havia de distingui-los, se traziam alguma marca na testa ou vestiam todos da mesma cor, mas calou-se. De nada serviria, a não ser para Filipe lhe deitar outro desses olhares que pretendiam mostrar-lhe que estava a ser insolente. E estaria, com todo o prazer. Enfim, certamente o seu distinto noivo saberia quem eram, pela brancura ou pelo aroma refinado da pele. Ou pelo tom de voz, quiçá... pessoas de sangue azul teriam decerto vozes de rouxinol. Riu-se baixinho, pensando nas vezes que o irmão lhe implorara que, por favor, não cantasse.
pág 64

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