...a pintora portuguesa contemporânea Adriana Molder, o escritor Philip K.Dick (December 16, 1928 – March 2, 1982) e o realizador Ridley Scott em comum?
Estava aqui às voltas com o meu tema da (futura) tese, a rever trabalhos, e gostei de relembrar.
Uma das imagens do painel Skin Job, de Adriana Molder, série de desenhos inspirados na mulher-android Rachel, do filme Blade Runner.
"Desde
o início que queria fazer algo que tivesse que ver com a ideia de obsessão.
Obsessão de um homem por uma mulher, de um ser por outro, ou neste caso de um
artista por uma imagem.(...) Elegi a Rachel do Blade Runner.Sei que é uma personagem
muito popular, o que me poderia dificultar o trabalho, mas acho que representa
na perfeição a ideia que tenho de como um ser intenso entra lentamente na mente
de outro.(...) Também gosto da ideia de veneração de uma
mulher que na realidade não é uma mulher, mas sim uma máquina, uma espécie de
Golem, de Frankenstein.Agora, depois da série feita, fica também no ar a ideia
de que esta mulher (Rachel) é também um estereótipo do ideal feminino segundo
um certo imaginário masculino: sexy, misteriosa, bonita, submissa, sendo salva,
talvez e apenas, pela sua intensidade emocional e pelo silêncio do seu olhar." (Adriana Molder, no site da pintora)
O close-up extremo, herdado por Molder do filme noir – ou, neste caso, a partir dos close-ups em Blade Runner – torna‑se elemento aglutinador da atenção do observador, que é impelido a concentrar-se no rosto e nas suas variações. O painel reproduz as oscilações expressivas de Rachel no filme – cada imagem é inspirada num still da personagem, em diferentes momentos da acção – reveladoras da sua dualidade arquetipal, que o observador, mesmo menos informado, reconhece. (texto meu, adaptado)
O close-up extremo, herdado por Molder do filme noir – ou, neste caso, a partir dos close-ups em Blade Runner – torna‑se elemento aglutinador da atenção do observador, que é impelido a concentrar-se no rosto e nas suas variações. O painel reproduz as oscilações expressivas de Rachel no filme – cada imagem é inspirada num still da personagem, em diferentes momentos da acção – reveladoras da sua dualidade arquetipal, que o observador, mesmo menos informado, reconhece. (texto meu, adaptado)
Rachel, do filme Blade Runner, de Ridley Scott, baseado na novela de Philip K. Dick, Do Androids Dream of Electric Sheep?
"A sua
caracterização [de Rachel] no filme e no livro dependem da sua condição de androide, mas
sobretudo do facto da natureza artificial não ser imediatamente visível: ela constitui, nas du as versões, o protótipo da
‘mulher perfeita’, bela, inteligente, distante, humana. No texto de Dick, como no filme, ela é o elemento
perturbador das intenções do herói e o seu objecto amoroso. É a partir daqui
que as duas versões divergem. Na obra de Dick, este interesse passageiro
representa também a tentação sedutora e, uma
vez que o herói é casado, o potencial de traição de natureza sexual, que
está conforme à natureza da androide (...) A fusão inicial de femme
fatale e androide na mesma figura colocam, pois, Rachel no centro da
intenção simbólica do filme sobretudo no questionamento da natureza do ser humano, num processo de
desumanização do modelo feminino (ou, podemos questionar, de humanização do
in-humano), e da sua intertextualidade. (texto meu, adaptado)
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