Alma Rebelde #3

Mais um Sábado, mais um pequeno excerto. Desta vez não é o final de um capítulo, mas um momento 'ao calhas' a meio de um. 

Um sobressalto constante. Assim foram os seus primeiros dias. Não que tivesse acontecido alguma coisa, os dias correram com uma tranquilidade assustadora. E não, ninguém a tratou mal, longe disso. A inevitável agulhada da humilhação não a trespassou, ninguém a fez sentir-se a intrusa que era, ninguém lhe lembrou o motivo porque a tinham enviado. De certa forma, era até o carinho que lhe dedicavam que a sobressaltava.

Brites tinha inquirido junto a Rosária o que lhe agradava. Na segunda manhã tinha flores frescas no quarto, biscoitos de mel e uvas com o pão fresco e o leite, ao pequeno almoço, e saquinhos de lavanda e jasmim para as suas gavetas, preparados por mãos cuidadosas. Ainda mais importante, alguém colocara um frasquinho de tinta e um caderno novo de capa de tecido, com um padrão de pequenas flores, sobre a escrivanhinha. As folhas soltas tinham sido substituidas por papel de carta com o brasão da família. Os criados sorriam-lhe e perguntavam-lhe ansiosamente o que desejava. Rosária estava feliz. A comida era deliciosa. Os passeios no jardim eram agradáveis. E havia paz. Era tão contrário às suas expectativas que o seu coração não tinha descanso. A todo o momento, esperava que algo viesse negar a espécie de calmaria que vivia. Decerto antecedia a tempestade. 

Alma Rebelde, pág.61

Hummm... acabei de notar que nenhum dos três excertos que publiquei tem diálogo, e eu que tanto gosto deles! Talvez o próximo, veremos.