"Respirou fundo. O negócio estava feito. Concluído. Nessa noite em que a ventania soprara com um pouco menos de sanha, e o nascer do sol espalhava finalmente uma luz dourada sobre os móveis, ainda pálida, anunciando o fim da tempestade lá fora, começava a tempestade na sua vida. E começava a pesar‑lhe a espera, a pesar-lhe ter de abafar a todas as horas as brasas lentas da ira. Sentia a languidez nos membros. Círculos escuros marcavam-lhe os olhos. O medo insinuava-se nos espaços cansados da sua mente. Sim, estava exausta, corpo e alma, de lutar consigo mesma. Dormia mal, não tinha apetite, ânimo ou paciência. Não queria conversar. Doía‑lhe a cabeça. Doía-lhe o corpo com a tensão da espera. Levantou o queixo num gesto de inócuo desafio. Não havia ninguém ali para reprová-lo, mas soube-lhe bem. Sentiu-se mais forte.
“De que adianta adiar? Que venha.”
Há tanto tempo que dera início à tarefa de escorar a alma contra o que viria em breve, o rio revolto da sua alma não tinha nenhuma hipótese contra a força da sua vontade. Nenhuma. A sua alma estava tão pronta quanto alguma vez estaria.
Alma Rebelde, pág.17
3 comentários:
Um bom final de capítulo, que convida a ler mais. Gostei especialmente da expressão: "ter de abafar a todas as horas as brasas lentas da ira".
Estou a desejar ler!!!
Gosto! Estou a ficar cada vez mais curiosa... :)
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