Construí a minha casa
em alicerces de cartão
seguro-a com o punho
com a força de uma mão
nela se abrigam gaivotas
perdidas da tempestade
todas ficam à janela
olhos verdes de saudade
Quem a vê de fora diz
que é casa de bonecas
p'ra confortar corações
e alimentar almas secas
Porque ela é azul cobalto
e cheira a maçãs silvestres
tem um galinho no alto
e vinte e sete ciprestes
num jardim feito de algas
de corais e madressilvas
e flores de nuvens bravas
e estátuas de mulheres vivas
Quem a vê de fora diz
que é casa de bonecas
p'ra confortar corações
e alimentar almas secas
Mas a minha casa é pouca
tem alicerces de espuma
paredes de mar zangado
telhado de coisa nenhuma
nela se acolhem olhos
reversos no seu cansaço
escolhos de barco preso
em armadilha de sargaço
Só quem a vê de fora diz
que é casa de bonecas
p'ra confortar corações
e alimentar almas secas
Sem comentários:
Enviar um comentário