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domingo, 14 de fevereiro de 2016

casa de azul cobalto

Construí a minha casa
em alicerces de cartão
seguro-a com o punho
com a força de uma mão
nela se abrigam gaivotas
perdidas da tempestade
todas ficam à janela
olhos verdes de saudade

Quem a vê de fora diz
que é casa de bonecas
p'ra confortar corações
e alimentar almas secas

Porque ela é azul cobalto
e cheira a maçãs silvestres
tem um galinho no alto
e vinte e sete ciprestes
num jardim feito de algas
de corais e madressilvas
e flores de nuvens bravas
e estátuas de mulheres vivas

Quem a vê de fora diz
que é casa de bonecas
p'ra confortar corações
e alimentar almas secas

Mas a minha casa é pouca
tem alicerces de espuma
paredes de mar zangado
telhado de coisa nenhuma
nela se acolhem olhos
reversos no seu cansaço
escolhos de barco preso
em armadilha de sargaço

Só quem a vê de fora diz
que é casa de bonecas
p'ra confortar corações
e alimentar almas secas

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