Páginas

terça-feira, 17 de março de 2015

Édipo e a Esfinge - Ingres e Bacon e outros

Hoje no Museu Berardo, onde fui com os alunos de 9º ano a uma visita de estudo, a guia falou-nos, entre muitas coisas, da forma como por vezes vários artistas "bebiam" da mesma fonte, oferecendo diferentes visões de um mesmo tema. A propósito, referiu uma obra que o museu tivera em exibição há pouco, o Édipo e a Esfinge de Francis Bancon, que ofereceu (não me lembro se no próprio museu ou no Louvre) a hipótese de comparação com outra, do século anterior.

Fiquei curiosa (quando é que não fico, com arte?) e fui à procura das tais duas interpretações pictóricas deste mito que deu origem à expressão Freudiana "complexo de Édipo"... e esse todos sabemos o que significa. Não encontrei só duas, mas várias - Só aqui, estão quatro, e há mais.


A lenda (parte dela):

Édipo, figura lendária da Antiguidade grega, é filho de Laio, rei de Tebas, e de Jocasta, sua mulher.


Um oráculo prevenira Laio que o seu primogénito o mataria. Por isso, quando esse filho nasceu, Laio mandou expô-lo no monte Citíron, onde foi encontrado por uns pastores atado a uma pernada de árvore, de cabeça para baixo e com os pés perfurados e muito inchados, circunstância que os levou a pôr-lhe o nome de Édipo (= pés inchados). Os pastores levaram-no então a Políbis, rei de Corinto. Este tratou a criança como se fosse um filho e deu-lhe uma educação de príncipe. 

Chegado à idade adulta e informado de que a sua origem era misteriosa, Édipo deslocou-se a Delfos para consultar o oráculo, pois queria saber quem era o seu verdadeiro pai. O oráculo aconselhou-o a nunca mais voltar à sua pátria, pois estava-lhe destinado matar o pai e desposar a mãe. Édipo, para contrariar o trágico vaticínio e convencido de que a sua pátria era Corinto, exilou-se, seguindo por um caminho que ia dar a Beócia, mas quis o acaso que se encontrasse com Laio, que seguia num carro puxado por muares. A insolência de um dos servos de Laio provocou uma briga, na qual o rei quis participar. Durante esta briga, Édipo matou o verdadeiro pai, cumprindo-se assim a primeira parte da profecia do oráculo. 
Depois da morte de Laio, o trono de Tebas passou para Creonte, pai de Jocasta.

Nessa época, campeava naquelas paragens um monstro - a Esfinge - com corpo de leão e cabeça de mulher, que mantinha em pânico permanente os arredores de Tebas, pois devorava todos os viandantes que não decifrassem os enigmas que ela lhes propunha.  Creonte, sucessor de Laio no trono de Tebas, prometeu então o trono e a mão de Jocasta, a jovem e bela viúva, sua filha, a quem livrasse o país daquele monstro pavoroso. Édipo apresentou-se cheio de coragem e propôs-se tentar decifrar o enigma que a Esfinge lhe propusesse. O monstro segurou Édipo pelo cinturão e propôs-lhe o enigma «Qual é o ser que no começo da vida anda com quatro pés, a meio da vida anda com dois pés e pelo fim da vida anda com três pés?». Se o enigma não fosse decifrado, Édipo seria devorado pela Esfinge; se o enigma fosse decifrado, a Esfinge aniquilar-se-ia. Édipo respondeu prontamente que era o homem, uma vez que nos primeiros tempos de vida gatinha sobre os dois pés e as duas mãos, durante a vida se desloca sobre os dois pés e pelo fim da vida se desloca sobre os pés com a ajuda do bordão, que é o terceiro pé. Furiosa, a Esfinge lançou-se pelos rochedos da costa e caiu no mar despedaçada. Édipo foi aclamado rei e casou com Jocasta. Assim se cumpriu a segunda parte da profecia do oráculo... 
(em infodédia, http://www.infopedia.pt/$edipo,2)


Alguns quadros.


Jean Auguste Dominique Ingres, 1808 


Édipo ea Esfinge - (François Xavier Fabre)
François Xavier Fabre (1766-1837)

Gustave Moreau, 1864


Francis Bacon - Oedipus and the Sphinx (after Ingres), 1983
Francis Bacon, 1983 (inspirado em Ingres)


Interessante, a interpretação de Bacon, não só por deslocalizar inteiramente o mito no espaço e no tempo, como se o colocasse ele próprio no museu (a esfinge está num pedestal?), como por modificar inteiramente a figura de Édipo, que neste quadro se me lembra um pugilista ferido... Isto sem entrar por questões de perspectiva, abertura e fechamento proporcionadas pelas linhas geométricas do chão e das paredes e pela porta enviusada, que abre para... para quê? Para um espaço incompreensível, manchado de sangue. E as cores? O rosa absurdo e agressivo das paredes? É melhor nem começar!

Sem comentários: