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domingo, 23 de novembro de 2014

os dedos de fria claridade

Há alguma coisa que adivinho melhor
do que a forma particular como o dia estende
a sua sombra da manhã para a noite
uma certa suspensão do tempo enquanto
o crepúsculo exerce o seu direito à indecisão
virão depois requebros de obscuridade
na luz que as casas acendem
e eu sei com essa sabedoria da cegueira
onde estão todos os amantes
atrás do estremecer único de um rectângulo
de brilho amarelo a anteceder o fogo
e também sei onde a solidão
aperta os dedos de fria claridade
ali um homem deixa pender a cabeça
amanhã não terá sombra para estender
ali eis que ela se enrosca em si mesma
e se embrulha no açucar dos sonhos
amanhã será uma nova luz
Não importa que coisa melhor se adivinha
esta é a que ao alcance dos dedos
debaixo do sol ardente do azul da lua
se molda nas formas reconhecíveis deste mundo



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