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terça-feira, 15 de julho de 2014

o poema entre os dedos dos pés

Levavas contigo os acordes
debaixo da camisola
da primeira vez que se encontraram
por acaso
guardaste-os ciosa do poema escondido
ainda a levavas
debaixo das solas dos ténis
no apressado regresso a quem eras
antes de saber que ele não via a métrica
dos teus passos
nem escutava a melodia
na hesitação à mesa desse café
onde te convenceu a parar
que não notava o bailado de dedos
a esconder o medo
em agitações nervosas a perseguir
as palavras
as poucas que conseguiste fazer deslizar
por entre os muitos nadas
que ele te disse

tu sabias o teu poema de cor
enroscado
entre os dedos dos pés
na curva macia do pescoço
na pequena cicatriz
por trás do joelho esquerdo
no insistente arredondado do ventre
sabias os vincos na alma
e riscos na superfície opaca
do tempo que passou entre o teu primeiro início
e mais essa manhã
de nenhuma esperança
canção as notas infinitamente belas
mas transparentes
partículas de pó frio a enrijecer o outono
invisíveis ao olho nú
e ele olhava-te o corpo
e ignorava a voz
ainda o tinhas contigo no vazio
da porta de entrada
e do sofá da sala






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