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sábado, 21 de junho de 2014

O que quer saber?

O que quer saber?
Houve um tempo em que fui
corpo escorreito, sim,
lesto e grácil
acredite
era outra nesta carcaça
não usava chinelas,
chinelas
só quando me perdi de mim
eu sei que não parece
mas
houve um tempo em que nada se perdia
lembrava
os nomes os lugares
as coisas que ainda havia
para fazer
nenhuma confusão
sabia onde tinha os óculos
de sol
que os olhos
ainda me mostravam
um mundo às claras
todos os sons
eram perfeitos
gostava de blues
era do que mais gostava,
sabe?
Mas era uma tonta
uma tonta
não gostava na altura
da minha forma
não sabia que era perfeita
sem dor
não apreciava os nomes
os lugares
as pessoas
ao alcance da minha vontade
não me detinha
a criar memórias
agora são imprecisões rectangulares
em álbuns
que alguém fez
não me lembro quem
pergunte àquela senhora
de branco
se lhe apetecer
não insista comigo
Escapa-me quase sempre
esse tempo
em que o olhar passava depressa
de uma imagem
para outra
sem espanto
espanta-me tudo por estes dias
coisas de sempre
creio que são de sempre
reconheço-as de quando em quando
como esse colar
que traz
quem lho deu?
parece-me que o vejo num espelho
mas não sei
falha-me a ideia, perdoe.
Nesse tempo
nada falhava
em mim, mas buscava
o quê?
não me recordo
acho que nunca encontrei
talvez estivesse tudo lá
e eu fosse mais cega
do que hoje
para que quer saber
se diz que é minha filha
sabe isto tudo
não me faça mais perguntas
cansa-me



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