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quarta-feira, 18 de junho de 2014

Emprestaram-me e eu li - A Filha do Capitão

A Filha do Capitão, de José Rodrigues dos Santos é um romance de muitas páginas, mais de 600, em que acompanhamos o percurso de Afonso Brandão, o Capitão, e Agnés Chevalier, filha de enólogo e mais tarde enfermeira de guerra, e a presença portuguesa na Primeira Grande Guerra, que eu conhecia mal, e sobre a qual comecei a aprender há pouco com o excelente romance de Cristina Drios, Os Olhos de Tirésias.

Devo dizer que, embora tenha levado muito tempo a ler este livro, por fazer grandes intervalos entre leituras, fui sempre surpreendida com o número de páginas que, de cada vez, acabei por ler. Aprendi e não foi difícil nem doloroso - a prosa é escorreita, as personagens têm alguma coerência, na globalidade o livro é interessante e muito informativo. A apontar... menos às vezes é mais.

Li há alguns anos o Codex 632, do autor, e fiquei nessa altura com a impressão de que o livro sofria de excesso. Excesso de páginas, excesso de informação, informação repetida até à exaustão e, como tal, redundante. Seria consequência da profissão esta vontade de reiterar factos, mas no romance menos seria mais. Menos 100 páginas, se calhar.  N'A Filha do Capitão, não cortava nacos de texto repetido quase palavra a palavra. Nada disso. O que eu reduzia eram... detalhes. O número de vezes que há referência aos nomes (modelos?) das armas, por exemplo, as mesmas, em situações semelhantes. Elaborações extensas sobre religião, sem consequências na narrativa mais adiante. Informações mais ou menos de conhecimento geral sobre arte, a encher uma conversa. O linguajar entre os soldados portugueses, que me pareceu exagerado, embora não saiba se será (conhecê-los tenha sido o mais interessante)... Menos teria evitado que, aqui e ali, passasse parágrafos, páginas, perdendo pelo meio, se calhar, alguma informação interessante. Havia muita. 

O romance e o fim foram um pouco brandos para o meu gosto e ... este é o maior spoiler de todos... então e a filha? E a filha? Estive sempre à espera que aparecesse a filha do Capitão prometida pelo título e que pelo menos parte do romance fosse com ela, a propósito dela... mas só aparece no fim e tem tão pouca relevância! Senti-me um pouco defraudada...

Uma nota para a capa interior, isto é, para a verdadeira capa...  linda.

5 comentários:

Cristina Torrão disse...

Penso que será o livro mais bem conseguido deste autor. Salvo erro, foi o primeiro.

Helena disse...

Foi o único livro dele que li, os outros títulos não me cativaram. Li-o rapidamente, porque a escrita é muito leve e agradável.

Célia disse...

Este também sofre de excesso.
Lê o Último Selo e a Fórmula de Deus, são muito bons!

São disse...

Acho que já é do conhecimento geral pelo mundo da net que o José Rodrigues dos Santos é o meu escritor favorito :) . Não digo que seja perfeito, mas como dizia a canção "You're not perfect, but you're perfect for me"... Já o admirava enquanto jornalista, sempre foi uma figura pública muito admirada na minha família, e quando começou a escrever, passei a admirá-lo mais ainda. Aliás, o meu primeiro contacto contigo neste blog não correu muito bem, por minha culpa, que achei que estavas a atacá-lo :) ... Já passou.

Bem, posso dizer que a a escrita dele é um bocado repetitiva porque ele tem um grande receio de que as pessoas não entendam a informação que ele pretende transmitir e então, as informações são transmitidas de várias maneiras, sempre por outras palavras, para que quem não entendeu à primeira, entenda à segunda. Porque o lema de escrita dele é , através de uma história fictícia, que serve de fio condutor, transmitir informação verdadeira.

No caso específico d' A Filha do Capitão, li há muitos anos e gostei, mas, ao contrário da maioria das pessoas, não considero que seja o melhor romance dele. Acho que está ao nível dos outros. Algo que me desagradou foi o facto do próprio título conter um spoiler. Pelo título, A Filha do Capitão, sabemos à partida que , pelo menos a criança sobreviveu e é uma menina.

Mas gostei, como gostei de todos os livros do autor. Já li todos, obviamente, inclusive o que saiu em França no final de Abril e que, por questões editoriais, só sairá cá em Outubro. Não foi muito fácil ler em Francês, pois já não lia em Francês há anos,mas também não foi assim tão difícil :)

Cristina Torrão, o primeiro romance dele foi "A Ilha das Trevas", em 2002 este foi o segundo, em 2004 :)

Carla M. Soares disse...

São, sim, é verdade que creio que as repetições se devem ao desejo(jornalístico, provavelmente) de passar e consolidar informação, mas para um leitor nem sempre isso funciona inteiramente bem... para mim, pelo menos.

Ainda assim, não desgostei de ler nenhum dos livros, a prova está em ter terminado ambos. Achei apenas que pecavam por excesso.