Segundo e último excerto da segunda parte deste livro. Se me pedirem, ainda coloco aqui um nadinha da terceira parte, que é pequena... mas só a pedido, eheheheh.
Aqui fica. Enjoy.
Os homens moveram-se para dentro do círculo de luz. Reconheceu num instante o holandês. Viu-o pegar na bagagem e passá-la a alguém dentro do hidroavião, com os mesmos gestos rápidos e tensos que lhe vira antes. Depois, voltou-se para os outros dois. João reconheceu o careca e pareceu-lhe que, pela altura e pela forma como o cabelo pálido brilhava, o outro podia ser um dos tipos louros do Palácio. O careca falou finalmente.
– Tem tudo? – pareceu-lhe ouvir.
Dekel assentiu e levantou o saco com tecido que, ainda há pouco, o vira comprar fora de horas. O tipo calvo remexeu lá dentro, puxou qualquer coisa pequena, examinou-a sem a retirar, voltou a em- purrá-la para o fundo e presenteou Dekel com uma palmada nas costas.
– Boa. Boa – disse.
– Fale baixo – rosnou o holandês.
– Ora essa, estamos sozinhos. – Riu-se, um riso seco de ave cacarejante.
– Nunca se sabe – contradisse Dekel. – Leve o saco.
– Leve-o você, é o seu trabalho. Vamos.
Dekel calou-se e João franziu o sobrolho. A não ser que contrabandeassem tecido aos centímetros, o saco tinha de levar mais alguma coisa. Como imaginara, Dekel fugia dali com qualquer coisa na bagagem. Lembrou-se das suas palavras, da sua dor, do seu ódio ao regime alemão.
Papéis. Documentos. Fotografias, ocorreu-lhe. O que quer que fosse, era suficientemente importante para valer o preço elevado que Dekel estava disposto a pagar. O sacrifício da vida que organizara e apreciava em Lisboa, dos amigos que fizera e, se calhar, até de um amor que começava. Da sua segunda oportunidade para viver completamente. Sentiu o aperto na garganta, toda a raiva que acumulara a desvanecer-se num instante. Quantas vezes seria o amigo obrigado a recomeçar?
1 comentário:
Obrigada por mais esta partilha... E já agora fica o pedido :-) mais um bocadinho?... Vá lá...
MC
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