Páginas

sábado, 26 de abril de 2014

A Chama... (excerto 1 de 4)

A Wook e a Coolbooks disponibilizam nos sites um excerto do início da minha nova história, de que devem estar fartos de ouvir falar.

Mesmo assim, nos próximos dias, vou levar uma pontinha muito pequenina do pano sobre o resto do livro. Dois excertos curtos de cada parte do livro (são duas), completamente random, para quem estiver curioso. Quem não estiver... é passar adiante! 

    

       A coincidência. Acabara de pousar as chaves na mesa da entrada e dirigia-me à garrafa de Cutty Sark, na intenção de lavar a irritação com whisky, quando tocou o telefone de casa. Sobressaltei-me. Era um acontecimento tão raro, que já tinha pensado meia dúzia de vezes em mandar desligá-lo. Já ninguém de interesse me ligava para ali. 
       Só pode ser alguma chatice, concluí. Deixei o grito estridente prosseguir, até ter o copo bem servido. Só depois, porque não se calava, atendi de má vontade. 
       – Está? – Sr. Vasconcelos? – era uma voz de homem. 
       – Sou eu. – Neto da senhora dona Carmo Maria Vasconcelos? 
       Sobressaltei-me ligeiramente. 
       A minha avó já não é viva – informei. – E nunca viveu aqui. 
       – Sim, eu sei. É consigo que quero falar. 
       Comigo? Fiquei confuso e bastante irritado. 
       – Quem lhe deu o meu número? – perguntei, com brusquidão. 
       – Vejo que está aborrecido. 
       – Que lhe parece? Quem fala? 
       – Foi a sua avó quem me deu o seu contacto, para que pudesse falar consigo. 
       A tranquilidade da sua voz de homem velho, a falar sobre a avó, a minha avó já falecida, enervou-me. Insisti:
       – Quem fala? 
       – O meu nome é João Lopes. Pode considerar-me seu… tio-avô. 
       O nome não me dizia nada, mas o resto despertou-me a curio- sidade. Tinha um tio-avô ainda vivo? O avô tivera um irmão, mas morrera muito antes do meu nascimento, nem sabia de quê. Pensei um instante. Uma espécie de tio-avô… Seria o quê, primo da avó? Tio dela? Irmão não era, a avó não tinha nenhum. Ou teria? 
       – Qual é a sua relação com a minha avó? 
       – Fomos muito amigos. 
       – Então não é família. 
       – É como se fosse. 
       – Nunca ouvi falar de si. 

Sem comentários: