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domingo, 9 de fevereiro de 2014

uma assim, ridícula

e se agora quisesse escrever cartas de amor
eu que nunca mais escrevi uma carta de amor,
se como o poeta soubesse que são rídiculas
mas escrevesse uma assim, ridícula,
com que letras imensas, se tivesse um amor, escreveria
eu que esqueci o amor e suas palavras tolas
enchê-la-ia de tremores e toques e coração e pele,
de lento respirar nocturno ou de fôlego ansioso
de arabescos de asa aberta em céu de canela
de flores de corola viva com perfume nas pétalas
que faria, deitaria sal de maresia nessas páginas 
eu, que não conheço a liberdade das palavras de amor,
que não sei que sabores devem ter ou que texturas,
que ondas ou rabiscos, que desenhos fazem no papel,
que palavras acharia perdidas pelos cantos desta casa,
da casa do meu corpo onde se me acolhe a alma,
ou se inesperada uma me chegasse, assim ridícula
com que sorriso a teria parada entre as mãos
esquecida do meu tempo hoje outra vez menina
que diriam estranhas as palavras de toscos contornos
talvez soubesse lê-las mas não reconhecê-las
talvez reconhecidas não pudesse contê-las

e se quisesse eu hoje escrever o desamor
que palavras encontraria eu que nunca o escrevi
o desamor assim frio que trepa e se detém na alma
como faria para me quebrar por dentro e ser assim
essa linha fina irregular racha na parede desta casa
que é o corpo vazio e nú por dentro desamado


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