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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Elysium - distopia interessante e heroísmo de pacotilha

Primeiro o trailer, para quem não tenha visto o filme. Andou já há uns meses no cinema, não calhou vê-lo.




Apesar destes temas distópicos e de FC serem dos que me levam mais depressa ao cinema, porque muitos beneficiam muito com o tamanho do ecrã, na altura não fiquei com pena. Tinha razão. Não porque não tenha passado uns bons momentos, entre lutas e correrias, mas porque no fim me aborreci: o que era uma boa premissa  transformou-se numa embrulhada de clichés . 

A tal premissa não é nova mas é interessante: a terra está tão degradada que a elite habita numa espécie de paraíso extra-terreno, sob a forma de uma estação espacial de luxo. Tudo é maravilhoso, incluindo um tratamento médico automático para quase tudo, a "reatomização". 

A caracterização da terra é adequada, bastante gritty, suja e degradada, como exige a intriga, com falta de trabalho, má habitação, cuidados médicos caóticos e escassos, alta criminalidade (um bairro da lata gigantesco) e os aproveitadores do costume - os que cobram os olhos da cara para levar ilegais para Elysium, sob risco de serem abatidos antes de lá chegar e, chegando, devolvidos à terra. Percebemos que arriscam os desesperados e os doentes, na esperança de uma reatomização rápida, antes da repatriação. Ilegais, transporte perigoso, repatriação, etc... lembra qualquer coisa, não é? Mais ainda porque todos, por alguma razão, têm um ar latino...

Pouco se vê de Elysium, infelizmente, a não ser o ambiente luxuriante. Quase não sabemos nada sobre a forma como se sobrevive ou de que se ocupam as pessoas, o que pensam da terra, etc. Tenho pena, perde-se uma parte interessante. Conhecem-se intrigas internas, políticas, mas é coisa básica, quase um pretexto para o que vai acontecer à personagem de Damon. 

Os actores também são bons, Matt Damon (não consigo deixar de ver Jason Bourne sempre que ele anda careca, meio sujo, a correr e a lutar), Jodie Foster (de quem não gosto particularmente, confesso), William Fitchner, Wagner Moura (sim, o brasileiro), Alice Braga (será a filha de Sónia Braga?), e cumprem. Há muita acção, máquinas, umas mais sofisticadas do que outras, e aí, confesso, gostei. É sofisticado, mas não há gagets extravagantes, as armas são credíveis, etc. 

O problema para mim foi mesmo a intriga, cheia de clichés:
  • Herói ex-bandido, empenhado em ser respeitável, apesar das condições de vida - check.
  • Herói tem um azar terrível no trabalho, fica com 5 dias de vida e está disposto a tudo para ir a Elysium reatomizar-se, única salvação possível - check 
  • Filha do amor da sua vida está a morrer de leucemia.- check
  • Má da fita (Foster) quer dominar Elysium - check, claro. 
  • Para isso recorre a um mau mesmo mau, assassino e violador, que a ajuda na terra, e a um negociante de armas - precisamente o dono da fábrica responsável pelo azar do herói. - check...
Preciso de continuar? Em resumo, o herói é muito herói. Consegue chegar a Elysium com dados importantes na cabeça, que permitem mudar aquilo tudo e oferecer mais saúde aos da terra, e no fim sacrifica-se, pela terra mas principalmente pela menina moribunda. Isto em longo momento, de grande emoção, daqueles com palavras a mais e imagens.  Os bons conseguem o que querem, graças a ele. Os maus mesmo maus morrem todos. O herói morre, claro, mas salvou o dia. E pronto, lá se foi a premissa interessante. Deviam reatomizá-la.

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