Páginas

segunda-feira, 6 de maio de 2013

A Elegante Melancolia do Crepúsculo

Estive na sexta feira passada no Teatro Joaquim Benites, em Almada, para assistir à maravilhosa peça de Roberto Merino, encenada por Luísa Pinto e produzida pelo Teatro Constantino Nery, com a colaboração da Câmara Municipal de Matosinhos.
 
Esta peça traz a palco três actores talentosos (a lindíssima Isabel Carvalho, João Costa e Valdemar Santos), e um maravilhoso pianista (Bernardo Soares, também director musical), fundindo artes, cinema, teatro e música num belo e em muitos momentos divertido exercício sobre as artes de representação e a vida de Charles Chaplin.
 

Com base nos filmes de Chaplin Luzes da Ribalta (de 1952), O Grande Ditador (de 1940) e Luzes da Cidade (de 1931), num palco minimalista onde dominam uma tela gigante e, à esquerda, um piano com o seu pianista, dá-se início à peça com a projecção de um excerto/reprodução do filme As Luzes da Cidade, protagonizado pelo autor que dará corpo a Charlot e figurantes que, soube depois, são funcionários da Câmara Municipal de Matosinhos. Entra depois em palco o segundo actor que, ao longo da peça, servirá de contraponto à personagem de Charlot e assumirá diferentes personagens. Discursa um pouco, em termos eruditos, sobre a arte da representação, e depois narra aspectos da infância de Charlot. Neste ponto, porque tinha comigo as crianças (13 e 11 anos), temi que a peça se prolongasse sempre nesse tom erudito, que serve bem aos adultos, mas muito mal aos mais novos.
 

Não poderia estar mais longe da verdade!  Ri-me tantas vezes ao longo do espectáculo e, melhor ainda, ouvi rir à gargalhada a minha criança de 11 anos! Muitas e muitas vezes, sobretudo com o episódio genial da representação de O Grande Ditador, o que mais perdura na memória do riso,. E  sorri, enlevada, com a poesia de alguns momentos, como é o caso, quase no final, da conversa emocionada entre a bailarina e o comediante d'As Luzes da Ribalta... O espectáculo é equilibrado e interessante e não se dá pela hora e vinte, sem intervalo, a passar. Recebemos, ao longo desse tempo, mensagens acerca da justiça, da liberdade, da esperança, da arte, mas quase nunca sentimos que elas nos são impostas - porque nos surgem com riso e palavras belas.
 
Mais interessante talvez seja a interação entre as artes no próprio palco. A música, ao vivo e muito bem pensada, faz-nos recuar ao tempo do mudo e acompanha na perfeição tanto a projeção na tela, como a representação no palco. É claramente inspirada nos filmes de Charlot - como aliás deve ser - mas de vez em quando surpreende-nos. Um momento "I will survive" ou o hino nacional, sem sair da musicalidade do filme mudo. Somos obrigados a sorrir, surpreendidos e agradados, quando da projeção na tela irrompem em certos momentos os actores, ao estilo "Rosa Púrpura do Cairo", e prosseguem em palco a representação. Muito bom.
 
Em súmula, uma bela noite de sexta feira e uma peça original e interessante, muito divertida, que ainda pode ser apreciada em vários pontos do país, antes de levar o divertimento a Terras deVera Cruz. Aconselho vivamente, não de forma imparcial, confesso, mas sem reservas.
 


 
 
PRÓXIMO ESPECTÁCULO
10 Maio, às 21.30, no Theatro Circo, em Braga

Sem comentários: