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terça-feira, 3 de julho de 2012

Soberba Escuridão - Andreia Ferreira


Sinopse:

Quando o relógio pisca as doze horas intermitentes, Carla recebe no seu quarto uma visita indesejada. A partir daí, todo o seu mundo desmorona e a solidão e o medo encarregam-se de a arrastar para um estado deprimente que só um desconhecido parece compreender.
Cega de paixão, nega as evidências de que o seu novo amor é mais do que um rosto angelical. Ele esconde segredos que a levarão para perigos que parecem emergir das profundezas do inferno.
Opinião:
Peguei neste livro com muita curiosidade. No goodreads, obteve desde duas estrelas a cinco. Fiquei com vontade de saber quem tinha razão. Para além disso,  o fantástico sempre foi um dos meus géneros preferidos e gostaria de descobrir mais autores portugueses a escrevê-lo bem. O que quer dizer que adorava poder dizer que gostei deste livro, concordar com quem lhe deu as cinco, quatro e três estrelas.

A verdade, porém, é que, apesar de uma ou outra ideia simpática, a história em geral não me seduziu. Com pena minha, porque a temática fantástica que a autora escolheu, embora muito na moda, me agrada bastante. E gostei do gato-protector, de acordo com a lenda egípcia.
Sem saber que idade tem a autora, diria que este é um livro claramente orientado para um público teen, e com influências de outras histórias nossas conhecidas. O público é óbvio não só pela escolha das personagens, pela envolvente familiar e escolar, muito presente, mas também no discurso. Por exemplo, na descrição das personagens principais e secundárias, feita em excessivo pormenor, com grande preocupação pela aparência, pelo vestuário, até mesmo, desculpem-me, em momentos despropositados. Acontece serem descritos os jeans, a tshirt, os peitorais e o cabelo com gel etc, no meio de uma tremenda aflição. A paixão também é automática e assolapada, e as reações um tanto exacerbadas, mas isso em teens não é de estranhar.   
Infelizmente, apesar da narração na primeira pessoa e de conhecermos os pensamentos da personagem, pouca empatia consegui sentir com apersonagem principal. As personagens têm personalidades que, com excepção honrosa feita à desgraçada da Ana, nos são mais contadas do que mostradas. Mais uma vez com enfase na aparência física, e com uma divisão 'escolar' entre bons e maus, com a uma típica dumb blonde como adversária. A propósito - sendo professora, não posso evitar - nem todos os profes são totós, chatos e quadrados. Podia, para tornar a coisa mais realista, haver um que fosse... vá, normal.
O texto precisa de uma revisão integral do português, para dar mais verosimilhança aos diálogos, que nem sempre são naturais,  para verificar a adequação do vocabulário (há termos mal aplicados), e para pontuar: são precisas muitas virgulas. E, em geral, para o escrever melhor, escrever frases mais claras, mais entusiasmantes.
Até me custou um pouco a chegar ao fim, embora quisesse saber quem era o quê, afinal. Fui andando, sempre na esperança de que, no fim, se provasse interessante, bem explicado. Eu sei que há mais livros, mas há coisas que não podiam ter ficado para depois. Fiquei desapontada. As personagens fantásticas escolhidas têm potencial para ser interessantes, mas  as cenas finais propriamente ditas pareceram-me um pouco apressadas e confusas. Uma trapalhada de rituais e explicações incompletas, e a moça a cair nos braços do seu amor terrivelmente perigoso quase sem relutância. 
Talvez o problema esteja em ler tanto fantástico para adultos, em já ter lido tantas cenas diferentes com tantas criaturas míticas muito bem 'arredondadas', mas a este livro falta-lhe qualquer coisa. E precisaria de uma revisão rigorosa do português, para a proveitar melhor as ideias, limpar o texto de clichés da juventude e, principalmente, de 'revezes' da língua. 

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