Depois de anos na escrita, ainda não sei quando é que se passa de "pessoa que escreve umas coisas" a escritor. Quando é que se atravessa essa linha: quando se completa um original? Quando uma editora aposta no original? Quando surge a primeira opinião sobre um trabalho publicado? Quando se ganha um conjunto de leitores? Quando o nome é reconhecido? E se não publica durante algum tempo, um escritor deixa de o ser? E quando não publica mais nada?
Fiz essa pergunta numa story do instagram. Este foi o resultado (sim eu sei, ainda não tenho 3 milhões de seguidores, eh!). Não houve, claro, grande consenso. Eu também não sei responder a nada disto. Talvez não seja mesmo possível encontrar uma resposta consensual... e creio que não importa, de qualquer forma. Cada um com o seu ponto de vista, não é verdade? Para um escritor, o que importa é ser lido.
E, antes disso, o que importa é LER. LER, LER, LER.
E que mais nos oferece a leitura, enquanto escritores, mas também enquanto leitores? Como seres humanos? Muito. Oferece-nos mundo, interior e exterior. Ler aprofunda a inteligência, a criatividade, melhora a concentração, o humor. Dá-nos paisagens novas, quantas delas imaginárias, e dá-nos gente, mesmo quando o tempo, o espaço e a gente nos falha. Ajuda-nos a compreender modos diferentes de estar, de pensar, de querer: faz-nos seres humanos melhores, mais empáticos. Abre a porta a um melhor entendimento de nós mesmos. Alarga o vocabulário e a elasticidade da estrutura frásica, e com isso melhora a capacidade de descodificar qualquer tipo de mensagem, direta ou subentendida, e de comunicar, de forma direta ou entrelinhas. Saber ler evita muitos enganos, permite-nos fazer escolhas em consciência, sem sermos enganados por discursos fáceis e teorias atraentes.
E faz companhia. Consola. Distrai. Ensina. Exige. Oferece. Precisamos de tudo isto, neste momento. Sempre.
Por tudo isso, é importante incentivar a leitura nos jovens, apesar da resistência, e ajudá-los a encontrar a "sua" leitura (porque sim, acredito que todos gostamos de ler, se encontrarmos o livro certo, no momento certo), e alimentá-la sempre, mesmo que pareça ter pouca fome. E por isso é que o livro é bem essencial. É necessário que o amor da leitura nasça de bons livros? Não. É necessário que nasça. O resto é um caminho.
Nota: estou a ler Fahrenheigt 451, um pouco assustada com o seu caminho de estupidificação geral (ser ignorante é ser feliz?), que conduz à eliminação e diabolização do livro. Tantas semelhanças! Parece-me que estamos nessa senda. Será irremediável?
Imagens: Norman Rockwell
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