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sábado, 22 de dezembro de 2012

A Trama da Estrela - Vasco Ricardo

Sinopse:
Enquanto uma negra conspiração se vai expandindo por algumas cidades europeias, três adolescentes divertem-se, navegando pela Internet, tentando decifrar mistérios e crimes até então irresolúveis.
Dana, Mark e Rohan são provenientes de nações distintas mas os seus interesses e suas motivações convergem. À medida que uma onda de crimes vai assolando o território do velho continente, os jovens vão interagindo através das comuns salas de chat, falando sobre um infindável número de temas.
O percurso das suas vidas toma, porém, um rumo diferente, acompanhado de estranhos acontecimentos que podem mudar os seus destinos.
Paralelamente, uma sociedade secreta, cujos elementos parecem tão competentes quanto obstinados, move-se de forma obscura e sanguinária, onde todos os seus passos são criteriosamente preparados, na tentativa de alcançar um marco até então inatingível.
 
Opinião:
Começo por dizer que, apesar de ter pegado nele numa altura má, li este livro com prazer, e é sob esta premissa que os pontos positivos e negativos serão apontados.
 
Esta é uma 'trama' que flui e diverte, que, pelo menos até certo ponto, oferece  mistério e (melhor ainda) não se leva muito a sério. Os nomes e interações dos agentes da organização apontam para um texto um pouco tongue in cheek, ou seja, que brinca com os clichés do género. Os diálogos entre os jovens também, embora por vezes me tenham parecido um pouco forçados, para encaixar na imagem da juventude que nós, adultos, temos. Tenho uma jovem em casa, lido com eles todos os dias. Sei mais ou menos como pensam e como falam. Por vezes reconheci-os, outras não. Mas atribui isso ao tal desejo do autor de brincar com as nossas ideias e diverti-me na mesma.
 
A trama é bem pensada e, para um livro pequeno, vai sendo bem desenrolada. A violência é atenuada pelo tom, e não levamos nada muito a sério - porque o autor também não, acho. Os primeiros capítulos foram lidos com um sorriso no rosto, mesmo quando havia gente a matar gente de maneiras terríveis.  Aqui ocorre-me que o livro podia ser maior, para podermos assistir com mais calma aos desenvolvimentos - mas aí está, até certo ponto no livro achei que se devia ao interessante espírito BD que adivinhava. Mesmo com meia dúzia de falhas de linguagem (sim, sou uma melga)  estava mais do que pronta a dar-lhe as quatro estrelas no GR.
 
E ei que, mais ou menos a meio do livro, três coisas acontecem:
1. Adivinhei a 'trama'. Toda, todinha, incluindo o envolvimento de certas personagens entre si e na própria intriga (não quero fazer spoiler, porque não quero estragar ma leitura divertida a quem pegar no livro). Não faz mal nenhum, acontece-me constantemente em livros e filmes. Não reduziu em nada o prazer da leitura, porque queria confirmar as minhas suspeitas, mas...
2. O livro mudou de tom. Em vez do delicioso beliscão que me dava até aí, ficou... diferente. Mais sério? Mais teen? Não sei que palavra devo usar, mas é a impressão que tenho. Mas: para ser sério, senti que precisava de mais páginas e de ser mais obscuro a partir daí, em vez de um misto entre as duas coisas. Precisava de outro teor para as conversas e a acção. Certas personagens tinham que sofrer mais, porque há situações capazes de causar sofrimento atroz. E humilhação, e vergonha, que nem o heroísmo poderia evitar. Parece-me. E não podia ser resolvida assim, num instante, por... hummm. Spoiler.  Ou sim, talvez se tenha assumido mais teen, e esta diferença se deva ao facto de ter passado a centrar-se no lado menos irónico - o dos jovens, e de ter entrado pelas suas interações familiares (pobre mãe! eu sou mãe, não gostei nada de ver a mãe do Mark ser tão obtusa!) e amorosas quando, ao longo do livro, as partes mais interessantes e bem conseguidas para mim foram sempre as dos agentes. Talvez esta parte apele a outro público, mas não me parece tão interessante e coerente.
3. O terceiro ponto é de rápida resolução: a segunda parte do livro precisa de mais revisão do que a primeira. De início, há poucos erros e gralhas, poucas frases que chamassem a prof chata de caneta vermelha dentro de mim. Na segunda, há vários. Mas isso o autor resolve bem, é deitar-lhe o mesmo olho revisor que deitou à primeira fase do livro. :)
 
Devo dizer, em conclusão, que li o livro com gosto, o fim com alguma impaciência, que esta é uma leitura jovem e fresca de um tema muito pesado, bastante boa para adolescentes e (na primeira parte) divertida para qualquer adulto. Mais ainda: gostaria mesmo muito que todo o livro fosse como a primeira parte, antes dos jovens se encontrarem: com tease mas sem romance adolescente, com mais ironia no heroísmo teen... E o Mark, personagem favorita, deve ser um coração de gelo. Pronto, disse-o. Fiquei zangada com ele.  *wink* *wink*

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