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terça-feira, 29 de maio de 2012

A Virgem das Amêndoas - Marina Fiorato

Sinopse:
Na Itália do século XVI, o jovem pintor Bernardino Luini, discípulo favorito do mestre Leonardo da Vinci, é encarregado de pintar um fresco religioso na igreja de Saronno, uma pequena localidade nas colinas da Lombardia. Ao entrar na igreja, a sua atenção é captada pela beleza e pela melancolia da jovem Simonetta, viúva de um poderoso senhor feudal morto em combate.
Sozinha e a ver a sua fortuna desaparecer até não restar nada mais a não ser as amendoeiras da sua villa, Simonetta acede a posar como modelo para Luini, que a imortalizará para sempre nos frescos da igreja como a Virgem di Saronno. À medida que o trabalho progride, artista e modelo apaixonam-se, selando o sentimento com um beijo que escandalizará a Igreja.
À genialidade com que Bernardino imortalizará a sua musa, Simonetta retribui com a criação da sua própria obra de arte: um licor especial fabricado com o fruto das suas amendoeiras. O licor ficará conhecido, até aos dias de hoje, como o famoso Amaretto di Saronno.
Contudo, antes de ambos completarem as suas obras, a relação é fortemente abalada por um acontecimento que porá em perigo aquele amor. E as suas vidas.
Uma inesquecível história de paixão e arte que se desenrola tendo como pano de fundo uma Itália Renascentista, onde a intriga, os escândalos, a guerra e a intolerância religiosa imperavam no dia a dia.



Opinião:
Começo por uma nota à capa, que acho lindíssima.

Este é o segundo livro da autora que leio, tendo lido primeiro O Coração de Murano. Nessa altura, este seu livro anterior despertou-me curiosidade, e agora descobri que estava certa.

Trata-se de uma fantasia em torno de uma lenda - a do licor de Amaretto - e de figuras reais, como o pintor Bernardino Luini, renascentista e discípulo de Da Vinci, sobre cuja vida, segundo a autora, pouco se sabe. Isso permitiu-lhe algumas liberdades criativas, que assentam numa pesquisa histórica, artística e biblíca que, para uma leiga, parece extensíssima.

Como estudante de Arte, este livro apaixonou-me o suficiente para ir à procura de imagens dos quadros de Luini, verificando que os elogios à sua excelência dentro do panorâma renascentista não são exageradas. Também espicaça o meu interesse pela História e, embora não seja crente, até pela Religião e pelos conflitos religiosos ao longo dos tempos. O que aqui temos é o retrato de uma época política e socialmente difícil na Itália, uma época de guerra e de perseguição religiosa (aos judeus), mas altamente criativa e viva em termos de pensamento. Curiosa é a forma como este romance se cruza, nos acontecimentos e nomes da História, com outro que li há pouco e de que gostei bastante, Os Cisnes de Leonardo,  cujo único defeito residiu numa mania minha - a de não gostar de livros narrados no presente.

Este, porém, deu-me muito mais prazer. Talvez por ter achado deliciosas as personagens - não só Simonetta e Bernardino, mas também Amaria e o seu Selvaggio (pena que a sua identidade seja um pouco previsível, mas não havia outra forma), Anselmo, Manodorata, a Nonna, e um conjunto de outras, mais secundárias. Talvez porque a(s) história(s) de amor me encantou(encantaram), ou porque a injustiça gritante de algumas situações me tocou. Verti a minha lágrima, quando esta atingiu um pico de brutalidade de um absurdo total, para quem vive no século XXI... e, no entanto, não está ainda o mundo livre destas aberrações religiosas. Boa parte do livro gira, aliás, em torno da fé cristã, da ignorância que muitas vezes trouxe aos homens, e dos seus agentes, fazendo deles o que eles são: nem todos anjos, nem todos demónios.

É, mais que tudo, um livro sobre o amor: amor paixonado, amor fraternal, amor paternal e maternal, amor ao próximo, até amor a um deus e à arte. A escrita é maravilhosa, a palavra na justa medida da história. Vou à procura, do mais que esta senhora com cabeleira de leoa possa ter escrito. Ou fico à espera que escreva mais!

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